Tuesday, April 18, 2006

De vez em quando penso nisto

São testemunhas de que demorei mais de uma semana até citar Álvaro de Campos. Mas hoje terá de ser. Aqui deixo uns versos de “Tabacaria” que me vêm à cabeça em certos momentos da minha rotina semanal.

“(...)
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra, 
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, 
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
(...)”

P.S. - Agora resta substituir a palavra “verso” por qualquer outra que aprouver a quem leia

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