Aventuras na manhã lisboeta
O taxista tinha sotaque. Eu arrisquei: “É da Ucrânia?” Ele respondeu que sim. Discretamente procurei a carteira profissional no “tablier”. Não havia. Não me importei. Tinha carta de condução e, com o permanente engarrafamento lisboeta, também não havia grandes hipóteses de colisão. Para ser simpático inquiri de que parte do país vinha. Respondeu que era da região Oeste e pronunciou um nome imperceptível de urbe. Pedi desculpa por não conhecer e disse que mais não conhecia além de Kiev. “E Chernobil?”, acrescentou ele, com um sorriso irónico. Admiti que também já tinha ouvido falar. A conversa até estava a correr bem, embora ele tenha ficado ligeiramente ofendido quando referi que a primeira-ministra Timochenko é fotogénica. Depois mencionei Iushchenko e Ianukovitch mas ele não quis meter-se em politiquices. Estava o trajecto a chegar ao fim quando tive a certeza de que conseguira adaptar-se na perfeição à sociedade portuguesa: um colega de profissão quis enfiar-se na faixa em que nos encontrávamos e ele não hesitou em acelerar para evitar a ultrapassagem e buzinar em sinal de reprovação. Em troca recebeu uns quantos insultos. Perguntou-me o que é que o outro taxista lhe havia dito. Eu, como bom surdo, nada ouvira. “Há muitos malucos aqui”, sentenciou o ucraniano.
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