Chico voltou. Resta saber se está perdoado
Quando no final dos anos 90 comecei a pesquisar a discografia de Chico Buarque fiquei abismado. Suas eram as canções que constituíam parte da banda sonora da minha vida nas décadas anteriores. Desde o “para ver a banda passar” até ao “agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês”, sem esquecer o “beijou sua mulher como se fosse a única” ou o “apesar de você, amanhã há-de ser um novo dia”. É possível que tenha em CD todas as canções que o maior cantor-compositor do Brasil criou ao longo da vida e, como não poderia deixar de ser, um pedaço daquilo que sou tem a ver com o filho do professor Buarque de Hollanda.
Dito isto, não deixa de ser verdade que o homem a quem me habituei a defender com garras e dentes sempre que se atrevem a menosprezá-lo perante um Caetano Veloso mais dado à alterglobalização pouco ou nada ofereceu aos melómanos nos tempos mais recentes. Chico tornou-se romancista e os raros discos que edita soam fracos perante a grandeza daquilo que vem de trás. Desta realidade nasceu um desencanto que para mim se transformou em ruptura e frieza quando aquele que admiro pela forma como enfrentou ditadores com a força da arte se absteve de condenar - muito pelo contrário - a vaga de repressão que em 2003 levou Raul Rivero e tantos outras figuras da oposição a Fidel Castro ao cárcere.
Até que nas últimas semanas fui bombardeado com o tema "Cinema", do novo disco “Carioca”, que aos poucos conquistou espaço entre as canções que canto baixinho e de boca fechada quando estou a trabalhar ou simplesmente sem fazer nada. No resto do alinhamento ainda não encontrei mais nada que me entusiasmasse por aí além, mas aquele “ela faz cinema/faz cinema/ela é a tal” traz de volta algum do encanto de outrora. É o suficiente para perdoar Chico? Ainda não sei. Mas é um bom começo.
Dito isto, não deixa de ser verdade que o homem a quem me habituei a defender com garras e dentes sempre que se atrevem a menosprezá-lo perante um Caetano Veloso mais dado à alterglobalização pouco ou nada ofereceu aos melómanos nos tempos mais recentes. Chico tornou-se romancista e os raros discos que edita soam fracos perante a grandeza daquilo que vem de trás. Desta realidade nasceu um desencanto que para mim se transformou em ruptura e frieza quando aquele que admiro pela forma como enfrentou ditadores com a força da arte se absteve de condenar - muito pelo contrário - a vaga de repressão que em 2003 levou Raul Rivero e tantos outras figuras da oposição a Fidel Castro ao cárcere.
Até que nas últimas semanas fui bombardeado com o tema "Cinema", do novo disco “Carioca”, que aos poucos conquistou espaço entre as canções que canto baixinho e de boca fechada quando estou a trabalhar ou simplesmente sem fazer nada. No resto do alinhamento ainda não encontrei mais nada que me entusiasmasse por aí além, mas aquele “ela faz cinema/faz cinema/ela é a tal” traz de volta algum do encanto de outrora. É o suficiente para perdoar Chico? Ainda não sei. Mas é um bom começo.
1 Comments:
Claro que está perdoado, pá. Ao Chico perdoa-se tudo, mesmo a "Morena de Angola" ("minha camarada do MPLA", não te lembras?). Foi graças a essa que, no "Língua", o Caetano escreveu o remoque "e o Chico Buarque de Holanda explique-nos Luanda"). Achei que devesses ficar mais chateado pelo "Já estragaram tua festa pá" a seguir ao 25/11...
Vou passar o verão a trabalhar na redacção de um certo jornal na rua Viriato - de onde te escrevo agora -, dirigido pelo mais famoso neocon português (gabinete a dois passos da minha secretária). Talvez a malta marque uma reunião de trabalho, colega?
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