Quando o lápis azul tem bons sentimentos
Na sempre imperdível coluna do provedor do leitor do “Público” Rui Araújo divulgou no domingo uma mensagem do Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, dando conta de que o supracitado organismo não ficou nada satisfeito com a notícia “Dois romenos detidos por copiar cartões de Multibanco”. Entre outras “recomendações” enviadas por Rui Marques, transcrevem-se duas, com a devida vénia:
“Vem a Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial
(...)
2 - Solicitar aos meios de comunicação social, sempre num quadro de respeito pela sua independência editorial, que evitem na construção das notícias a referência a nacionalidade, etnia, religião ou situação documental, sempre que esta não seja um eixo explicativo do essencial da notícia.
3 - Convidar os editores dos diferentes meios de comunicação social a ponderarem se o peso relativo que é atribuído no espaço mediático a acções de detenção de imigrantes em situação irregular em Portugal, bem como o tom das notícias sobre essas operações, corresponde a uma opção rigorosa, equilibrada, proporcional e com respeito pela dignidade humana.”
E pronto: afinal é fácil resolver os problemas que assolam os imigrantes em Portugal. Se há redes mafiosas que canalizam mulheres do Terceiro Mundo para prostíbulos onde lhes retiram os documentos e cobram quantias irreais pela viagem de regresso, basta não fazer notícias sobre tão incomodativas realidades. Ou então calcular-lhes o “peso relativo” de modo a que não passem de breves incapazes de captar a atenção de quem folheie o jornal de forma apressada. De igual modo, qualquer crime perpetrado por um imigrante - legal, ilegal, whatever... - pode perfeitamente ser silenciado a bem da “tolerância e afecto pela diversidade” que são “particularmente condicionados pela percepção que a opinião pública tem dos imigrantes e das minorias através dos média”.
Rui Marques terá certamente as melhores intenções ao enviar esta mensagem ao provedor do leitor do “Público”. Mas eu imagino-me durante uns segundos como um imigrante que procurou Portugal e dedica-se a trabalhar de forma honesta para garantir o seu sustento e o da sua família. E pergunto-me se ficaria feliz perante a torrente de condescendência patente nas tais recomendações. Se eu sou um cidadão honesto que faz o seu trabalho e relaciona-se com os outros de forma cordata, o que me importa se nos jornais aparecerem notícias segundo as quais alguns dos meus compatriotas, pessoas que nunca sequer conheci, cometeram crimes de maior ou menor gravidade? Posso estar enganado, mas não me parece que me importe ao ponto de advogar o recurso à censura.
“Vem a Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial
(...)
2 - Solicitar aos meios de comunicação social, sempre num quadro de respeito pela sua independência editorial, que evitem na construção das notícias a referência a nacionalidade, etnia, religião ou situação documental, sempre que esta não seja um eixo explicativo do essencial da notícia.
3 - Convidar os editores dos diferentes meios de comunicação social a ponderarem se o peso relativo que é atribuído no espaço mediático a acções de detenção de imigrantes em situação irregular em Portugal, bem como o tom das notícias sobre essas operações, corresponde a uma opção rigorosa, equilibrada, proporcional e com respeito pela dignidade humana.”
E pronto: afinal é fácil resolver os problemas que assolam os imigrantes em Portugal. Se há redes mafiosas que canalizam mulheres do Terceiro Mundo para prostíbulos onde lhes retiram os documentos e cobram quantias irreais pela viagem de regresso, basta não fazer notícias sobre tão incomodativas realidades. Ou então calcular-lhes o “peso relativo” de modo a que não passem de breves incapazes de captar a atenção de quem folheie o jornal de forma apressada. De igual modo, qualquer crime perpetrado por um imigrante - legal, ilegal, whatever... - pode perfeitamente ser silenciado a bem da “tolerância e afecto pela diversidade” que são “particularmente condicionados pela percepção que a opinião pública tem dos imigrantes e das minorias através dos média”.
Rui Marques terá certamente as melhores intenções ao enviar esta mensagem ao provedor do leitor do “Público”. Mas eu imagino-me durante uns segundos como um imigrante que procurou Portugal e dedica-se a trabalhar de forma honesta para garantir o seu sustento e o da sua família. E pergunto-me se ficaria feliz perante a torrente de condescendência patente nas tais recomendações. Se eu sou um cidadão honesto que faz o seu trabalho e relaciona-se com os outros de forma cordata, o que me importa se nos jornais aparecerem notícias segundo as quais alguns dos meus compatriotas, pessoas que nunca sequer conheci, cometeram crimes de maior ou menor gravidade? Posso estar enganado, mas não me parece que me importe ao ponto de advogar o recurso à censura.
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