Cinco anos mais tarde
Tinha ido almoçar relativamente cedo a um dos restaurantes da Rua de Arroios e quando regressei à redacção do Independente poucos ali se encontravam. Era terça-feira, dia afastado o suficiente da hora de fecho para caucionar maior vagar nas refeições, e provavelmente aproveitei a calma para ficar uns minutos a pensar nos temas em que deveria apostar para a secção de Economia. Mas então alguém (suponho que a Adriana Vale, mas as pequenas memórias tornaram-se difusas perante o sucedido nas horas seguintes) chamou-me a atenção para o pequeno ecrã. A SIC Notícias mostrava imagens de uma das Torres Gémeas do World Trade Center em chamas. "Terá embatido no edifício uma pequena avioneta”, arriscava o jornalista de serviço. Desconfiei de imediato: mesmo sem nunca ter ido a Nova Iorque sabia que a localização dos aeroportos mais próximos tornava difícil de explicar a presença do tal avião alegadamente acidentado na ilha de Manhattan.
E depois vi o que toda a gente observou e alguns ainda hoje conseguem negar-se a ver. Apesar de não possuir o potencial de destruição dos mísseis nucleares que tanto temia na infância e adolescência passadas nos tempos do "equilíbrio do terror", o embate do segundo avião foi "the end of the world as we know it”. Nada ficaria igual. Perante as dúvidas de algumas pessoas, crédulas ao ponto de acreditar que aquilo poderia ser um "mero" acidente aéreo, tinha a certeza de que acabara de testemunhar o mais inacreditável atentado terrorista de sempre. Recordo-me de ter ficado com receio que a autoria daquele horror fosse de um grupo palestiniano, cuja luta (tantas vezes mal conduzida) pela independência apoio, em contraciclo com as minhas convicções políticas, desde que me lembro. Minutos depois soube que os dedos estavam apontados ao terrorista saudita Ossama Bin Laden, para mim (e para muitos outros) um quase desconhecido. Recebi a informação sem grande alívio e continuei atento à televisão e à internet, procurando entender quantos mais aviões estariam sequestrados e qual seria a verdadeira dimensão do ataque.
Enquanto isso, o telemóvel tocava e tocava e tocava. Tentei acalmar a minha mãe e a minha "better half", incapaz de perceber se os seus primos residentes em Manhattan teriam ou não sido afectados pela queda dos edifícios. Era então óbvio que milhares teriam morrido. Não garanto que tenha feito uso do meu protestantismo "sui generis" para naquelas horas rezar por eles e por aqueles que os perderam. Mas a todas as vítimas - as que viajavam nos aviões sequestrados, as que saltaram para a morte de um 70.º ou 80.º andar, as que ficaram soterradas nos escombros ou foram quase pulverizadas pela violência da derrocada - faço desde há cinco anos uma permanente homenagem. Não me esqueço de que morreram e não me esqueço de como morreram.
E depois vi o que toda a gente observou e alguns ainda hoje conseguem negar-se a ver. Apesar de não possuir o potencial de destruição dos mísseis nucleares que tanto temia na infância e adolescência passadas nos tempos do "equilíbrio do terror", o embate do segundo avião foi "the end of the world as we know it”. Nada ficaria igual. Perante as dúvidas de algumas pessoas, crédulas ao ponto de acreditar que aquilo poderia ser um "mero" acidente aéreo, tinha a certeza de que acabara de testemunhar o mais inacreditável atentado terrorista de sempre. Recordo-me de ter ficado com receio que a autoria daquele horror fosse de um grupo palestiniano, cuja luta (tantas vezes mal conduzida) pela independência apoio, em contraciclo com as minhas convicções políticas, desde que me lembro. Minutos depois soube que os dedos estavam apontados ao terrorista saudita Ossama Bin Laden, para mim (e para muitos outros) um quase desconhecido. Recebi a informação sem grande alívio e continuei atento à televisão e à internet, procurando entender quantos mais aviões estariam sequestrados e qual seria a verdadeira dimensão do ataque.
Enquanto isso, o telemóvel tocava e tocava e tocava. Tentei acalmar a minha mãe e a minha "better half", incapaz de perceber se os seus primos residentes em Manhattan teriam ou não sido afectados pela queda dos edifícios. Era então óbvio que milhares teriam morrido. Não garanto que tenha feito uso do meu protestantismo "sui generis" para naquelas horas rezar por eles e por aqueles que os perderam. Mas a todas as vítimas - as que viajavam nos aviões sequestrados, as que saltaram para a morte de um 70.º ou 80.º andar, as que ficaram soterradas nos escombros ou foram quase pulverizadas pela violência da derrocada - faço desde há cinco anos uma permanente homenagem. Não me esqueço de que morreram e não me esqueço de como morreram.
1 Comments:
Quando naquele dia me deparei com a imagem dos aviões batendo no World Trade Center, pensei que fosse algum novo filme B de ação dos EUA. As imagens eram muito reais. Vou assistir esse filme, pensei. Só depois de alguns minutos que me dei conta do que estava acontecendo.
Um abraço
Marco Aurélio
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