E agora para algo completamente estúpido

Uma das muitas dádivas que tenho de agradecer à minha mãe é o facto de ela comprar, alegadamente “por causa das receitas”, a revista “TV 7 Dias”. Graças a esse seu gesto abnegado tenho a possibilidade de verificar a gloriosa caminhada em direcção ao abismo e absoluta subversão de valores que tomou conta do meu país. Desta vez reparei num artigo sobre o final de uma das novelas da TVI - peço desculpa mas nunca consigo distinguir os títulos daquelas que não são o “Morangos com Açúcar” - que teve o condão de me lembrar as indignadas palavras da minha “better half” ao testemunhar, alguns dias antes, o que de seguida relato. Pois bem: a vilã da referida novela teve direito ao castigo essencial para confortar a populaça, mas desta vez a equipa de argumentistas não recorreu ao homicídio ou acidente de automóvel do costume. Em vez disso, surgiu uma personagem secundária e despejou-lhe um copo com ácido sulfúrico no rosto, privando-a da sua propalada beleza (a actriz “desfigurada” é Cristina Câmara, a mesma que desviou o padre no filme “Tentação”), e numa cena seguinte os telespectadores tiveram o prazer de ver as horrendas cicatrizes provocadas pela imprevista agressão.
Tendo em conta que o ácido começa a ser popular como método de resolver desavenças conjugais e/ou vingar abandonos de relação - sempre na lógica do “se não és minha/meu, não serás de ninguém” - no “país real”, pergunto-me até que ponto é avisado incluir uma cena desta num programa de razoável audiência? Caso entendam que sim, espero que de seguida também se lembrem de colocar personagens a suicidar-se na ponte sobre o Tejo.