Uma concessão (sem exemplo) à idolatria
A minha cara-metade tinha assuntos a tratar perto do Campo dos Mártires da Pátria e, num rasgo de cavalheirismo facilitado em que está "between jobs", ofereci-me para a ir esperar. Dei por mim com tanto tempo para queimar que, esgotada a leitura dos cinco diários que me auxiliam a evaporar a conta bancária, dediquei longos minutos de atenção à estátua do célebre dr. Sousa Martins. Em redor do pedestal jaziam centenas de mensagens talhadas em pedra, agradecendo graças concedidas e apelidando de "amigo" e de "irmão" o benemérito médico que há mais de um século auxiliava os necessitados de Lisboa pela simples bondade do seu coração. Senti neste final de tarde as dores e a gratidão dos que acreditam ter sido auxiliados pelo espírito do grande homem e o meu cinismo habitual refreou-se ao ponto de nem sequer zombar dos muitos erros de ortografia que estavam à minha frente. Olhei para o alto, encarei a estátua paga por subscrição pública e até concedi que, apesar das minhas convicções protestantes, algumas formas de adoração de ídolos são minimamente compreensíveis.
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