Um terrível desperdício de quatro vidas
Foi às três e muito da passagem de sábado para domingo que o anódino teletexto confirmou que os quatro portugueses mortos numa queda de avião no Chile não eram completos estranhos. Três deles (César, Maria José e Cláudia) pertenceram à turma anterior à minha no curso de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. E eram amigos desde esses tempos imemoriais da minha amiga Paula Lobo, que por esta altura estará a atravessar um sofrimento que não me atrevo a imaginar. Ao longo dos últimos dias muito se falou nas quatro vítimas do estúpido desastre. Tocou-me sobretudo a homenagem prestada pelo "Record" aos dois camaradas (César de Oliveira e André Romeiras) que não mais voltarão a entrar na redacção enlutada e duvido que nos tempos mais próximos consiga esquecer a impossível crónica de última página que Alexandre Pais escreveu na edição de domingo. Também o "Diário de Notícias" tem feito o possível por fazer justiça à memória da "Zé", mostrando aos leitores que ela era mais do que uma assinatura no final ou no início de cada uma das muitas peças jornalísticas feitas ao longo de mais de uma década no prédio da Avenida da Liberdade. Resta a Cláudia, que trabalhava numa agência de comunicação e talvez por isso tende a ficar esquecida na imprensa. Conheci-a de vista na Avenida de Berna e mais tarde reencontrei-a graças à Paula Lobo. Nunca foi particularmente próximo dela e há de certeza centenas de pessoas capazes de lhe traçar melhores retratos. Resta-me dizer que sempre me pareceu uma miúda cheia de vida e de alegria. O que aconteceu nas cordilheiras do Chile foi um terrível desperdício de quatro vidas que ainda não iram sequer a meio daquilo que teriam a fazer. E a compensação de terem desaparecido para sempre enquanto faziam algo de que tanto gostavam não vale nada.
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