Adeus a um homem bom
Por mais voltas que dê à cabeça não sou capaz de me recordar da última ocasião em que falei com o Luís Ribeiro. Suspeito que terá sido numa das milhentas conferências de imprensa do universo Portugal Telecom a que me desloquei enquanto jornalista, muito embora também o possa ter encontrado casualmente na estreia de um filme ou de uma peça de teatro. Pelo contrário, lembro-me muito bem das circunstâncias em que o conheci: ele era administrador da empresa Público - Comunicação Social SA, ovelha negra da Sonae no que aos relatórios e contas dizia respeito; eu tivera a falta de bom-senso suficiente para integrar a lista única para a comissão de trabalhadores de um diário com graves problemas e que vivia na ressaca da saída dos seus pais fundadores, Vicente Jorge Silva e Jorge Wemans. Durante longos meses mantivemos negociações que só não eram mais complicadas devido às qualidades humanas do gestor que tínhamos pela frente. Imagino, aliás, que o Luís deveria parecer perigosamente heterodoxo aos olhos do engenheiro Belmiro de Azevedo e a verdade é que, mesmo depois de liderar numa fase inicial o projecto da Optimus, acabaria por demandar outras planícies. Segui de longe a fase seguinte da sua valorosa carreira e, apesar de um punhado de anos sem qualquer contacto, fiquei com o coração pesado ao ler no sábado a notícia da sua morte. Foi-se embora demasiado cedo, mas foi um homem com a oitava letra do alfabeto em maiúscula até ao fim. A sua última vontade de que o dinheiro que poderia ser gasto em coroas de flores em sua homenagem fosse convertido em donativos para as crianças internadas no Instituto Português de Oncologia foi a derradeira prova disso.
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