Monday, November 20, 2006

Reflexões após presenciar uma cerimónia do adeus

De entre todos os homens vivos que conheço inclino-me somente perante um. Está velho, cansado, doente e demasiado lúcido e brilhante para que seja plausível assegurar-lhe que as três primeiras características não correspondem à mais pura realidade. Observo que está preparado e em paz com o fim que um dia, sempre demasiado cedo - admito que mais para nós do que para ele -, acabará por chegar. Ao ponto de querer encenar as memórias que dele deveremos guardar quanto não estiver à nossa espera do outro lado da ponte que, como ele me ensinou há muitos anos, foi construída de um dia para o outro. Ele está à espera que ela apareça. Talvez branca e leve, talvez branca e fria. Mas não será a neve daquele poema que sempre gostou de mostrar ter memorizado há mais décadas do que as nossas vãs experiências podem imaginar. Quando esse dia chegar tenho quase a certeza de que não mais me inclinarei perante qualquer outro homem.

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