Thursday, October 19, 2006

Quando um gesto vale mil palavras

Não sou grande apreciador da palavra "ternurento" e quando a utilizo normalmente sai da minha boca salpicada de sarcasmo. Mas foi essa proscrita palavra que me veio à cabeça ao cruzar-me duas vezes, no espaço de meia-hora, com um casal de jovens namorados surdos-mudos que ontem à tarde passeavam pela zona do Saldanha. Ela, muito branca e com aspecto de menina mais pequena do que os documentos de identificação deixariam adivinhar. Ele, mulato sorridente com ar de tipo em quem se pode confiar. Os dois, abraçados e a cortejar-se através de uma sucessão de movimentos de mãos indecifráveis para os não-iniciados. Tudo o resto à sua volta, incluindo o ensurdecedor ruído da cidade a preparar-se para a hora de ponta, deixara de existir e de importar.

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