Tuesday, December 05, 2006

Por entre os pingos da chuva

Lembro-me da última vez em que senti medo do tempo. Tinha onze ou doze anos e estava no ginásio grande da Escola Preparatória Almirante Gago Coutinho – "melting pot" de meninos de Alvalade e amadurecidos pré-adolescentes dos bairros sociais circundantes onde pela primeira vez me apontaram uma arma branca à barriga – quando uma tremenda tempestade tomou conta dos céus de Lisboa. Não sei o que mais me assustou naquele final de tarde: os relâmpagos que aclaravam o espaço mal iluminado, os trovões que soavam a catástrofe iminente ou o incessante ruído da chuva a abater-se sobre a cobertura de material sintético "low cost". Recordo-me disto enquanto a chuva agride os estores e as janelas da minha silenciosa casa. Passaram mais de duas décadas e já não tenho medo do tempo. Pelo menos no sentido meteorológico do termo.

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