A insustentável chateza de o ver
Num universo paralelo talvez fosse presidente de um estúdio de Hollywood. Nesse universo paralelo talvez já estivesse morto. Caso o meu estúdio fosse responsável por "Babel", a longa-metragem do mexicano Alejandro González Iñárritu que por razões dificilmente perceptíveis mereceu o prémio de Melhor Filme Dramático aquando da entrega dos Globos de Ouro, não seria de todo improvável que cortasse as veias no final do visionamento. Neste universo, onde apenas sou espectador e ocasionalmente crítico de filmes, limitei-me a preencher 142 minutos de batidas cardíacas - estaria capaz de jurar que a empreitada chegou às três horas, mas o sempre bem informado IMDB garante-me o contrário, o que só vem provar que o tempo passa mais devagar em certas ocasiões - com uma sucessão de ocorrências separadas em três núcleos narrativos colados com cuspo. À medida que as desgraças e "malaise" desfilavam perante os meus olhos, com Marrocos, México e Japão a servirem de cenário do mundo "globalizado", nunca logrei criar a mais ténue relação com as personagens que as sofriam. Perdoem-me os possíveis "spoilers" mas estava-me absolutamente borrifando para a sobrevivência da turista americana encarnada pela Cate Blanchett, para o possível suicídio da adolescente surda-muda japonesa (embora Rinko Kikuchi, em igualdade com a mexicana Adriana Barraza, ainda seja o melhor que este pretensioso filme tem para oferecer) ou mesmo para a eventualidade de duas crianças serem atacadas por animais selvagens no deserto junto à fronteira entre o México e os Estados Unidos. Só queria que aquilo acabasse de vez. E a certo momento acabou. Já nem me lembro muito bem como, mas o regresso da luz àquela sala já foi um "happy ending".
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