A maturidade enquanto produto bancário
Consegui chegar aos 34 anos e alguns meses sem nunca ter aplicado o dinheiro ganho com o suor dos meus dedos. Desde o primeiro cheque de 500 mil escudos destinado a pagar os primeiros três meses de trabalho no "Público" até à tarde de hoje nada mais havia ousado além de sucessivos depósitos e levantamentos na minha velha conta de depósito à ordem. Um comportamento capaz de provar, por si só, que a racionalidade nem sempre é convocado quando falamos de dinheiro e que só não configura um excesso de tesouraria mais grave pelo facto de a referida conta ter sofrido um abalo quando eu e a minha "better half" adiantámos uma razoável parcela do valor pelo qual comprámos as gélidas assoalhadas que pagaremos ao longo de três décadas. Só que tudo mudou entre as duas e as três da tarde. Entrei no balcão e mergulhei em simulações de rentabilidade, limites de desconto no IRS e comissões de gestão do investimento. Quando regressei à encharcada Avenida de Roma era o feliz detentor de um determinado número de unidades de participação num fundo obrigacionista de baixo risco cujos resultados dependem de factores que pocurarei entender na medida do que é possível. Nem sequer me lembro do nome do produto bancário que subscrevi. Retenho da torrente de informação que deixa de haver comissão de resgate após 180 dias e que o meu ganho será maior caso as taxas de juro parem de subir sempre que os cavalheiros do Banco Central Europeu resolvem sentar-se à mesa para tomar café. Estou muito satisfeito com este meu "upgrade" de maturidade e só espero não ter um ataque de coração - até porque ainda não subscrevi um novo seguro de vida no intuito de baixar o malfadado "spread" - da próxima vez que consultar o meu saldo após levantar dinheiro num Multibanco.
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