Tuesday, February 06, 2007

The "N" Word


Eu votaria "sim" se houvesse um referendo em que me perguntassem se cidadãos na posse das suas capacidades e com doenças incuráveis podem, a seu pedido, ver abreviado o tormento com a ajuda de profissionais de saúde que livremente o aceitem fazer.
Eu votaria "sim" se houvesse um referendo em que me perguntassem se dois cidadãos do mesmo sexo e com vontade de ficarem ligados pelo conjunto de direitos e obrigações chamado casamento o podem fazer.
Eu votaria "sim" se houvesse um referendo em que me perguntassem se esses mesmos cidadãos, já sujeitos às alegrias e agruras do casamento, têm o direito de se candidatar à adopção de crianças.

[sosseguem os leitores que, tal como eu, "padecem" de direitismo: também votaria "sim" se houvesse um referendo em que me perguntassem se autores de crimes contra pessoas em que haja extrema premeditação e desrespeito pela vida humana devem ter como pena máxima a prisão perpétua]

No entanto, irei votar "não" no próximo domingo. Faço-o devido às minhas dúvidas quanto ao início da vida humana, faço-o devido à minha crença de que as excepções previstas na actual legislação já são extremamente abrangentes (no caso da violação julgo ser impossível não reconhecer como legítimo que uma mulher não queira abrigar em si uma vida resultante de um acto de extrema violência), faço-o por considerar que combater o propalado flagelo do aborto clandestino passa pela educação sexual destinada a evitar a permanência do "desmancho" enquanto solução para um facto consumado, faço-o por querer viver numa sociedade de pessoas conscientes e que sabem precaver-se. São as minhas razões, certamente discutíveis. E, no limite, como diria o frei Louçã, no limite ignoráveis por serem desprovidas de autoridade. Por enquanto ainda só tenho sobrinhas (mais um sobrinho "oficioso") e não sei até que ponto isso me qualifica como "expert" em sorrisos de crianças.

5 Comments:

Blogger MPR said...

Serão inconscientes as sociedades em que o aborto não é crime? Como em toda a Europa com 4 escepções (Portugal ,Irlanda, Polónia e Malta)? E porque é que achas que uma mãe se pode recusar a carregar o filho de um violador, mas que não tem capacidade nem consciência para saber em que outras circunstâncias quer fazer a mesma escolha? A lei actual prevê todas as hipóteses?

11:01 AM  
Blogger Leonardo Ralha said...

Mantenho dúvida razoável quanto ao momento em que duas vidas existem na mesma pessoa. Mas, para citar a grande Simone de Oliveira, quem faz um filho fá-lo por gosto. Distingo entre uma gravidez decorrente de uma vil manifestação de violência e uma gravidez decorrente de descuidos ou persistente e relapsa ignorância. De qualquer forma, basta ler a actual legislação para verificar que uma interpretação mais abrangente permite quase todos os motivos para pôr fim à gravidez antes das dez semanas.

P.S. - Não partilho a tua convicção de que estar no "pelotão de trás" face aos "progressistas" parceiros de Velho Continente seja necessariamente mau. Como diriam as nossas egrégias avós, se o teu amigo saltar para dentro de um poço vais atrás dele?

7:41 PM  
Blogger MPR said...

Eh, eh... não, para um poço não, mas não significa que se seja cego a tudo o que é feito à nossa volta. Quanto à actual lei não é verdade que permita quase todos os casos, é a realidade que o prova, se assim fosse não existiria esta questão.

11:04 AM  
Blogger Isa said...

Muito bom L, vou republicar. com licensa

2:56 PM  
Blogger Isa said...

licença, porra... já me fustiguei...

9:27 PM  

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