Há coisas fantásticas, não há?

Eu pecador me confesso: não me lembro de ter transposto os portões do Jardim da Estrela. Para quem nasceu e cresceu na perfeita geometria do bairro de Alvalade, aquele espaço verde ficou sempre demasiado distante e nunca as contracurvas da minha existência alteraram esse facto. Até hoje. Dentro de minutos lá estarei, tal como uns quantos bloggers da nossa praça, a testemunhar o casamento da minha irmã Diana com o João, sob o olhar atento da irrequieta loura de olhos azuis que completa o lar num prédio de gaiola pombalina. Vai ser bonita a festa, pá!

Ei-los que se manifestam...

Não trabalhei no feriado da semana passada, mas passei quase todo o dia no sossego da minha burguesa residência. Ainda bem que o fiz. Parece que houve uma manifestação pacifista em que os participantes traziam consigo barras de aço, paus e "cocktails molotov". Detestaria atrapalhar a marcha de pacifistas tão carregados e com tantos mauzões para castigar.

O último a ser intimado que feche a luz

Na Câmara Municipal de Lisboa reinventa-se a máxima de Andy Warhol: no futuro todos serão arguidos durante (pelo menos) 15 minutos.

Mudam-se os tempos, mudam-se as xaropadas

Mais um 25 de Abril passou e mais uma vez os telespectadores receberam como prenda o "Capitães de Abril". Sorte tiveram os portugueses que viveram antes do advento da televisão. Pelo menos não eram forçados a gramar, ano após ano, "A Revolução de Maio" de António Lopes Ribeiro.

Retalhos de uma Liga dos Campeões

Decorria a segunda parte do Chelsea-Liverpool quando ocorre um momento surreal no banco de José Mourinho. O avançado Kalou percebe que irá entrar em campo e veste o mais depressa que pode o equipamento. E têm que ser os colegas a avisá-lo de que ia entrar com a camisola de Wright-Philips, o diminuto e irrequieto extremo inglês. Observei a cena no resumo alargado da RTP e fiquei com a certeza de que existe uma metáfora escondida - imagine-se uma raspadinha metafísica - naquilo que aconteceu em Stamford Bridge.

Um grande português

O digníssimo Belenenses disputará a final da Taça de Portugal com o Sporting. Um acontecimento que me enche de alegria, visto que o valoroso clube do Restelo tende a fraquejar na presença do símbolo do leão. E também porque a vitória sobre o Braga esteve nos pés do excelente e desaproveitado meio-campista português chamado José Pedro Salazar. Quem sobreviveu a este nome de família tendo nascido no Barreiro dos anos 70 só poderia mesmo tornar-se um vencedor.

Assim vão as glórias do Mundo

Sem grandes surpresas, o grupo parlamentar do PS chumbou um projecto de lei que visava a criação do crime de enriquecimento ilícito. Suponho que a orientação de voto não será muito diferente se a oposição levar a plenário uma proposta idêntica, mas destinada a combater o enriquecimento curricular ilícito.

No fundo o tempo é um conceito tão relativo...

Depois do certificado de habilitações, datado de 26 de Agosto de 1996, que antecipou em três e dois anos, respectivamente, a futura introdução do prefixo telefónico "21" e dos sete algarismos no código postal, será que ainda teremos direito a ver os recibos de multibanco que comprovam as quotas pagas por José Sócrates durante a sua fugaz passagem pela Juventude Social-Democrata?

Maio de 68 aplicado ao losango verde-e-branco

Mais um jogo em Alvalade que a minha corrente existência impediu de presenciar. E mais uma vitória importante para manter o sonho. Do que vi pela televisão - menos na primeira parte, quando ainda havia páginas para fechar, e um pouco mais na segunda - a rapaziada-ouçam-lá-o-que-vos-digo está em grande forma. Destaca-se a imensa ratice de Liedson, a solidez da defesa-maravilha, a inteligência de João Moutinho, os passes de Romagnoli e a força de Miguel Veloso. Deu para tudo. Até para um golo de Alecsandro (Lourenço e Varela voltem, estão perdoados). Fiquei a acreditar um pouco mais e lembrei-me daquele velho chavão francófono: "Soyons réalistes, exigons l'impossible." Até porque não é assim tão impossível...

Reciclagem: love it or leave it!

O "highlight" da minha última folga foi a metamorfose de duas embalagens planas do Ikea, compradas há uma quantidade obscena de meses, na secretária Galant que agora domina o escritório destas modestas assoalhadas. Finda a empreitada, sepultei uma amálgama de cartão no caixote de lixo do prédio, tendo na manhã seguinte a surpresa de a encontrar intocada, forçando-me a caminhar umas dezenas de metros até ao papelão mais próximo. Estou capaz de apostar que este zelo dos funcionários da Câmara de Lisboa faz mais pela reciclagem de papel, vidro e embalagens do que a campanha publicitária com aqueles miúdos que agora já são mais crescidos.

Lista de coisas a não fazer

1. - Comprar um carro usado a este homem*

*em boa verdade é honesto reconhecer que também não compraria um carro usado a Pedro Santana Lopes e Durão Barroso (até porque este último ainda levava o automóvel com ele para Bruxelas), sendo mais provável que o fizesse se o vendedor fosse António Guterres, que certamente acabaria por deixar o negócio a meio, sem explicações de maior, à menor dificuldade.

Uma velinha já ninguém tira a este blogue

A minha experiência com diários resumia-se ao registo de uma semana, algures no início da minha adolescência, em que sucumbi à inspiração de Adrian Mole, esse moço da minha idade criado pela imaginação de Sue Townsend. Há uns anos, estando eu a meio do exercício de distribuir a minha existência por dezenas de caixotes de cartão, não resisti a rir-me com a forma como esse breve registo me transportou para um tempo já demasiado distante, tanto para o bem como para o mal. No dia 7 de Abril de 2006, quando escrevi o primeiro "post" do Papagaio Morto, ignorava que o iria manter durante um ano inteiro. Mas mantive-o. Nas últimas semanas pouco o actualizei, tal como pouco actualizei seja o que for na minha vida tirando as páginas do "Correio da Manhã". No entanto, acredito que irei manter esta fugaz presença na blogosfera. E rezarei para que uma falha técnica do Google nunca venha a apagar as memórias que digitei em diversos teclados.

Coisa nunca antes vista: um "post" a pedido

O ano em que passei dos 33 para os 34 anos ficou marcado, entre outros funestos eventos, pelo colapso do "Independente". Tudo isso parece (às vezes) já distante, mas convém ser lembrado que houve dias positivos por entre a catástrofe. Num desses momentos, prevendo todos nós o que estava reservado, o camarada Gustavo Sampaio, promissor jornalista com algum azar nas redacções em que se mete, pediu que lhe escrevesse - não arrisco se ainda na qualidade de chefe de redacção ou já na dourada prateleira de redactor principal - uma carta de recomendação para um mestrado que ele desejava frequentar. Não garanto que o tenha feito de imediato. Se calhar demorei uns tantos dias, mas terá havido uma qualquer jornada que prolonguei com mais uns minutos roubados às rotineiras cinco horas de sono. Resultado: ele foi aceite e, venho agora a saber na caixa de comentários, tem obtido belas notas. Parabéns ao autor do blogue Escrita Casual, que um dia espero reencontrar numa qualquer redacção desta terra.

Uma dica para elevar os espíritos

Sempre que me encontro rodeado de dificuldades por todos os lados gosto de pensar que pelo menos não sou um dos soldados norte-americanos que foram arrastados pelas ruas de Mogadíscio.

Processo de abstracção em curso

Na caminhada matinal entre o quatro andar esquerdo graças ao qual o meu informal agregado familiar fomenta o sector bancário português e o meu recém-encontrado posto de trabalho cruzo-me diariamente com três ou quatro pedintes de géneros, etnias e "métiers" diferentes. Quase não dou pelas respectivas acocoradas presenças nos passeios da minha cidade. Em boa verdade outorgo maior atenção aos incontáveis prédios das Avenidas Novas que ameaçam ruir.

Plano de ataque para o mais improvável dos títulos

First we take pedreira bracarense, then we take Carnide. À parte isto tudo o resto é relativamente fácil.

Diz que é uma espécie de "spoiler"

Um dos meus objectivos de vida durante as próximas semanas é chegar a casa antes das onze e meia da noite às segundas-feiras. Cumprindo esse objectivo tenho oportunidade de tirar partido dos euros adicionais entregues à TV Cabo em troca do pacote Funtastic Live e assistir à repetição do episódio do "Lost" que passou às proibitivas dez e meia da noite da terça-feira da semana anterior. Quanto mais conheço a terceira temporada da série que agora chegou a Portugal mais me convenço da plausibilidade de a trama desenrolar-se numa espécie de Purgatório em que os "sobreviventes" da queda do avião tentam ficar em paz com as pontas soltas que não chegaram a rematar enquanto estavam vivos. Admito que não será o pensamento mais reconfortante mas desde que Bobby Ewing reapareceu vivo no chuveiro em "Dallas" deixou de haver qualquer limite para a gestão de arcos de narrativa na televisão norte-americana.