Sunday, May 27, 2007

E lá veio o prémio de compensação...

Confesso: fiquei mais contente com o único golo que hoje aconteceu no Estádio Nacional do que a sua principal consequência. Não ligo assim tanto à Taça de Portugal para festejar o prémio de compensação uma semana depois de o título de campeão ter falhado a metamorfose do virtual para o real. Já o golo que decidiu o Sporting-Belenenses foi tão bonito quanto simbólico da temporada 2006/2007. Liedson resolveu, mas nada de significativo teria acontecido não fosse a força e o saber-fazer de Miguel Veloso, brilhante naquele cruzamento como tantas vezes foi a executar tantas outras jogadas. O ex-repositor de supermercados e o ex-patinho feio das camadas juvenis do Benfica estão de parabéns.

Um fugaz sinal de que é plausível ter esperança

Hoje de manhã as ruas da cidade de Lisboa foram percorridas por um autocarro da Carris cuja motorista aproveitava cada sinal vermelho para avançar na leitura do calhamaço de Tolkien que escolhera para a acompanhar durante a jornada de trabalho.

Saturday, May 26, 2007

Fim de expediente na Telepizza


O destino conduziu-me, poucos minutos antes das onze da noite de quinta-feira, à Telepizza situada no cruzamento da Óscar Monteiro Torres com a Oliveira Martins. A encomenda já tinha sido feita quando eu ainda procurava carta de alforria de mais uma edição do “Correio da Manhã”, pelo que a missão parecia simples: chegar antes de os representantes da geração do emprego precário decidirem encerrar portas, pedir a Pizza Terra requerida por um determinado número de telemóvel, retirar uma quinzena de euros da minha carteira já ligeiramente gasta pelas entradas e saídas dos bolsos dos casacos e carregar um jantar alternativo até ao quarto andar esquerdo do melhor número de polícia da Rua Augusto Gil.
Puro engano. Quando o táxi me descarregou na supracitada esquina de Lisboa a Telepizza ainda se encontrava em horas de expediente mas os seus funcionários aparentavam partilhar uma letargia pós-coital – suponho que faz algum sentido, visto que haviam sido copulados pela entidade empregadora ao longo das horas anteriores – e foi a custo que logrei ver a minha presença reconhecida por uma rapariga cujo ânimo aparentava ter sido removido num complexo acto cirúrgico. Depressa percebi que a Pizza Terra – desprovida de cebolas mas com todo o tomate e azeitonas que um homem de boa vontade pode desejar – ainda era mais massa do que jantar e aproveitei para hibernar alguns minutos, abstraindo-me do mundo apesar de carregar na mão direita a pasta carregada de papéis que denunciava o meu estatuto de trabalhador que não está sujeito à tirania da ida para casa às seis, sete ou oito da noite. Assim teria permanecido todo o tempo necessário para a conclusão do projecto alimentar no forno industrial instalado frente aos meus olhos não fosse ter a felicidade de testemunhar o drama do quotidiano que passarei a descrever.
Nunca cheguei a ver a personagem principal. Só sei que se trata de um homem, visto que a co-protagonista da história várias vezes o tratou por “senhor”. Talvez seja novo, talvez seja velho, talvez seja entre uma coisa e outra, assim como eu começo a estar. Branco, negro, amarelo ou azul, é provável que também não lhe tenha apetecido fazer jantar na noite de quinta-feira. E telefonou para a Telepizza. A sua noite poderia tornar-se a partir daí banal, não fosse ter uma morada desaconselhável. Isto, claro está, a acreditar na reacção dos funcionários ao longo dos minutos seguintes. A rapariga que com ele falava tentou dizê-lo da forma mais delicado possível, mas a realidade abatia-se como um bloco de 16 toneladas: nenhum entregador de pizzas estava na disposição de trocar o sobreaquecido conforto da esquina da Óscar Monteiro Torres com a Oliveira Martins por um bairro onde nada de bom poderia acontecer.
Posso jurar que o homem que queria jantar pizza deu o seu melhor. A rapariga, assaz perturbada com as reservas que colocava ao cliente que supostamente tem sempre razão, garimpou soluções. Talvez ele pudesse deslocar-se até à esquadra da PSP mais próxima, assegurando que o olhar vigilante dos agentes dissuadiria a inevitável ocorrência de um assalto. Mas não. A esquadra ficava a um quilómetro. Feitas as contas, dois mil metros, metade dos quais com uma caixa cartonada de pizza fumegante e oleosa nas mãos, estariam longe de ser o complemento mais agradável para uma jornada que se adivinhava ter sido difícil – quem no seu perfeito juízo encomenda pizza a poucos minutos das onze da noite de uma quinta-feira se o dia tiver sido fácil? Depois de ouvir isto, a rapariga fardada de vermelho iniciou um diálogo tenso com o entregador de sotaque brasileiro, quase que regateando uma última saída com os ridículos veículos de dois rodas que cruzam todas as ruas de Lisboa. Ou, melhor dizendo, quase todas as ruas de Lisboa. O aparente imigrante mostrou-se inflexível. Não lhe apetecia ter uma navalha encostada ao estômago, ou à garganta, ou adivinhar futuras reprovações do supervisor. Não, não e não. Se dele dependesse, o homem que continuava do outro lado da linha poderia muito bem morrer de fome. Ninguém no seu perfeito juízo iria àquela rua, daquele bairro, àquelas horas da noite.
O homem que queria uma pizza fez uso de todos os argumentos que tinha ao seu dispor. Para início de conversa, junto à sua casa estava ainda aberto um café. Haveria, portanto, movimento e nunca ninguém arriscaria assaltar. Pelo menos foi isto o que a rapariga fardado de vermelho disse ao entregador brasileiro. Este não alterou a rigidez do rosto e da vontade. Fazer chegar uma pizza a tais coordenadas seria pouco menos do que um suicídio. Ninguém no seu perfeito juízo o faria e ele tinha-se em conta de proprietário de uma mente sã e de um corpo que assim pretendia permanecer. O impasse instalou-se, a conta telefónica do candidato a cliente continuava a agravar-se e por essa altura eu já desejava que a Pizza Terra demorasse mais uns minutos a ficar pronta, visto que nos dramas reais – ao contrário dos livros e dos filmes – é impossível ir directo à última página ou accionar a função de “fast forward”. E, mais do que sentir compaixão pelo homem da rua perigosa, pela rapariga que atendeu o telefone e pelo entregador – personagens de um drama irresolúvel em que não me permitia discernir quaisquer herói ou vilão -, eu queria por essa altura saber o fim da história.
Estava perdido nestes pensamentos quando a rapariga fardada de vermelho tomou uma decisão. Pediu de forma educada ao homem que queria pizza para aguardar mais uns instantes e rumou ao interior do rés-do-chão daquele prédio de esquina da Óscar Monteiro Torres e Oliveira Martins. Segundos depois regressou com um homem que, embora trajando vestes tão juvenis quanto as dos colegas, tinha voz de superior hierárquico. O recém-aparecido disse algo misterioso ao entregador brasileiro e este, manifestamente contrafeito, desceu o queixo uma dezena de graus abaixo do ângulo recto. Acabara de ser derrotado mas ainda assim procurou ver estabelecidas condições. Queria que o cliente estivesse à porta do prédio quando a motoreta lá chegasse, assegurando que a troca de pizza, notas e moedas decorreria numa porção de segundos diminuta ao ponto de não atrair a atenção de inimagináveis predadores. O homem apresentou uma contraproposta: ficaria à janela e desceria logo que avistasse a chegada do jantar. Chegou-se a um acordo e iniciou-se a produção da pizza, certamente a última que sairia do forno nessa quinta-feira.
Fui para casa com a secreta esperança de que nada de mal acontecesse na rua perigosa de um bairro suficientemente próximo daquele em que vivo para ficar na zona de influência da mesma Telepizza. Talvez o homem quisesse mesmo terminar o dia com o estômago mais guarnecido. Talvez o entregador regressasse são e salvo e fosse de seguida descansar ou divertir-se antes de o despertador começar a dar ordens. Talvez a rapariga não se arrependesse de confiar na bondade dos propósitos do homem com quem falou ao longo de vários minutos.
Pela minha parte não tive grande sorte. A Pizza Terra não era grande coisa.

Thursday, May 24, 2007

Palavras de Donald O'Connor (mas eu assino por baixo)

Make'em laugh!

Though the world is so full of a number things,
I know we should all be as happy as
But are we?
No, definitely no, positively no.
Decidedly no. Mm mm.
Short people have long faces and
Long people have short faces.
Big people have little humor
And little people have no humor at all!
And in the words of that immortal buddy
Samuel J. Snodgrass, as he was about to be lead
To the guillotine:

Make 'em laugh
Make 'em laugh
Don't you know everyone wants to laugh?
(Ha ha!)
My dad said "Be an actor, my son
But be a comical one
They'll be standing in lines
For those old honky tonk monkeyshines"

Now you could study Shakespeare and be quite elite
And you can charm the critics and have nothin' to eat
Just slip on a banana peel
The world's at your feet
Make 'em laugh
Make 'em laugh
Make 'em laugh

Make 'em...
Make 'em laugh
Don't you know everyone wants to laugh
My grandpa said go out and tell 'em a joke
But give it plenty of hoke

Make 'em roar
Make 'em scream
Take a fall
But a wall
Split a seam

You start off by pretending
You're a dancer with grace
You wiggle 'till they're
Giggling all over the place
And then you get a great big custard pie in the face
Make 'em laugh
Make 'em laugh
Make 'em laugh

Make 'em laugh
Make 'em laugh
Don't you know... all the...wants..?
My dad...
They'll be standing in lines
For those old honky tonk monkeyshines

Make 'em laugh
Make 'em laugh
Don't you know everyone wants to laugh?

Ah ha ha ha ha ha há
Ah ha ha ha ha ha
Ah ha ha ha ha ha ha
Ah ha ha ha ha ha ha ha ha
Make 'em laugh, ah ah!
Make 'em laugh, ah ah!
Make 'em laugh, ah ah!

Make 'em laugh
Make 'em laugh
Make 'em laugh!

Lá vai Lisboa, com a saia cor do mar

Encaro as eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa com entusiasmo nulo. Suponho que acabarei por votar num candidato que provavelmente nem conseguirá chegar a vereador, mas o que me realmente assusta é leve possibilidade de entregar pela segunda vez o meu voto a Carmona Rodrigues. Não por acreditar que ele tenha passado como uma brisa pelos lamentáveis acontecimentos dos últimos meses mas pela antevisão da imagem de Marques Mendes a reagir a um resultado humilhante - e do qual nem com dotes de malabarismo conseguirá desenredar-se - para o PSD.

Tuesday, May 22, 2007

Anúncio oficial a quem aqui venha parar

O autor do Papagaio Morto agradece mais do que possam imaginar a todos quantos tiveram a amabilidade de comentar os últimos "posts". A vida continua e o blogue também. Existe um longo texto, sombrio mas necessário enquanto catarse, em "draft", pairando qual espada de Damocles sobre os vossos monitores, mas farei o meu melhor para regressar depressa e em força ao "core business" do blogue: ironia, sátira e flagrantes da vida real com um ligeiro toque de surreal.

De volta ao meu pequeno mundo


O meu Sporting, aquele que em tempos recentes não chegava ao Natal, chegou a ser campeão virtual durante alguns minutos em dois fins-de-semana consecutivos. É pouco, muito pouco, mas superou em muito as minhas sombrias expectativas perante a exiguidade do jovem plantel que o honesto e realista orçamento do clube de Alvalade e Alcochete permitiu. Já no plano individual acabo de descobrir que tenho outra coroa de glória: não só fui o 148.º no ranking da Liga Record - e um dos claros sinais de masculinidade pós-moderna é perder alguns minutos por semana com jogos de "fantasy football" - como logrei ser o concorrente melhor classificado de entre os jornalistas. Quererá isto dizer que o meu futuro passa pelo jornalismo desportivo ou - quem sabe? - pela gestão de activos numa SAD? O futuro o dirá. Pela minha parte ficam os sentidos agradecimentos aos futebolistas Helton, Diego Benaglio, Caneira, Bosingwa, Patacas, Carlos Fernandes, Pepe, Tonel, Miguel Veloso, Marcos António, João Moutinho, Raul Meireles, Rodrigo Tello, Lisandro Lopez, Zé Manuel, Ricardo Sousa, Bruno, Liedson, Yannick Djaló e Varela. Sem as suas boas prestações nos relvados deste Portugal eu não teria conseguido esta pequena alegria. E Deus sabe o quanto dependemos das pequenas alegrias.

Tuesday, May 15, 2007

Isto ameaça tornar-se monotemático

Uma das facetas mais perturbadoras da vida moderna é a forma como nos apropriamos de palavras de outras pessoas para traduzir aquilo que a dado momento carregamos na alma. Eu não sou excepção, pelo que aqui descarrego um pequeno excerto do "Le Moribond", composto pelo meu grande amigo Jacques Brel há uns meros 46 anos, que nos últimos dias cantarolo quase sem dar conta quando penso na última viagem do José Ralha.

"Adieu Curé je t'aimais bien
Adieu Curé je t'aimais bien tu sais
On n'était pas du même bord
On n'était pas du même chemin
Mais on cherchait le même port"

Não tínhamos de facto a mesma rota mas acredito que eu e o meu pai procurávamos o mesmo porto. Pode ser que ele entretanto já tenha encontrado o Brel e estejam agora a discutir plantas tropicais ou outro tema de conversa mais candente, como as Mariekes das suas vidas.

O meu segundo encontro com o padre Honório

O padre que hoje rezou missa de sétimo dia pelo meu pai na Igreja da Charneca da Caparica é precisamente o mesmo que baptizou a minha sobrinha Marta e casou os seus pais, Ricardo e Ana. Desse homem de Deus, de seu nome Honório - em tempos capelão do exército português ao lado de um alferes chamado António Lobo Antunes - e senhor de palavras sábias e adequadas em ocasiões tão díspares quanto aquelas em que os nossos caminhos se cruzaram, apetece-me dizer de tal forma bem que me atreveria a considerá-lo um protestante honorário.

Thursday, May 10, 2007

E não sei porque escrevo isto

Há pouco mais de quatro horas despedi-me do meu pai. Os senhores do Cemitério do Alto de São João faziam o possível por lograrem a invisibilidade mas era evidente que não podíamos prolongar o acontecimento pela manhã dentro. Já dentro do crematório lembrei-me da solidária azáfama do velho taxista a inventar faixas de rodagem inexistentes para combater os pisa-ovos cumpridores do Código da Estrada que enchiam a Rua Barão de Sabrosa. Mesmo assim cheguei atrasado ao encontro com o José Ralha, pelo que cumprimentei apressadamente quem já lá estava - os meus três irmãos, a minha mãe, a mãe dos meus irmãos mais novos, os irmãos dos meus irmãos mais novos, os meus amigos José Eduardo e Andreia, a namorada do meu pai, amigos do meu pai, amigos da família... - e sentei-me perto do meu avô. Ajudei-o a levantar-se quando chegou o momento de ser quebrado o silêncio e agarrei-lhe o braço enquanto aquele homem irrepetível, até porque o molde perdeu-se na sucessão das décadas, vencia em passos lentos e doridos os degraus que o afastavam de ficar à distância mais correcta do caixão onde repousava o corpo do seu primogénito. O professor doutor Alberto José Nunes Correia Ralha assistiu a tudo, como um rochedo que resiste à erosão porque assim é suposto, amparado por mim e pelo meu irmão Bernardo. Ao meu lado, com um vestido bonito e estranhamente apropriado à ocasião, a Diana chorava. Suspendi por instantes o acto constitucional de dureza exterior entre os Oliveira-Ralha e fiz-lhe uma festa, repetindo-o com o Paulo, aquele de entre nós que mais novo ficou sem pai. A cerimónia foi curta e nada planeada, mas pareceu-me mil vezes mais verdadeira do que a encomendação de alma que o padre fizera na distante terça-feira. A Maria, namorada do meu pai durante os seus últimos anos de vida, verteu primeiro a sua imensa tristeza, seguindo-se o André Gonzaga, para quem a perda do homem que o ajudou a criar durante quase uma década chegou meses depois da morte do seu pai biológico. E por fim subi o último degrau. Fiquei lado a lado com o corpo do meu pai, passei-lhe uma última vez as mãos por aquele glorioso cabelo branco encaracolado - "glorioso" era o adjectivo que o José Ralha mais utilizava, pelo que o utilizo enquanto verdadeira descrição dos factos e homenagem - e disse curtas palavras que talvez pudessem ter sido mais fluidas mas dificilmente mais verdadeiras e sentidas. Daquilo que me lembro - e sempre que falo em público tenho alguma dificuldade em recordar o que disse -, expliquei que ele não era um pai do sentido mais hollywoodesco da palavra - saiu-me "hollywoodesco", vá-se lá bem porquê, quando a palavra certa seria (ou não) "tradicional" -, mas tinha muito para ensinar e dera muito daquilo que ele era não só aos filhos como também às pessoas que com ele se cruzaram ao longo da vida. Mais disse que o meu pai nem sempre fez as escolhas correctas ao longo da sua vida, mas que os erros por si cometidos não tinham sido por maldade. E ainda que, da sua forma nem sempre fácil de entender, ele gostava muito dos seus filhos. Posto isto desci um degrau e voltei a amparar o meu avô. Mais ninguém falou em memória de José Ralha. Os senhores que faziam os possíveis por ser invisíveis certificaram-se de que estava tudo dito e fizeram o que tinham a fazer: o caixão foi fechado e levado até a um estrado que, graças a um sistema mecânico, fez com que o corpo do meu pai avançasse alguns metros, atravessando uma espécie de cortina até ao lugar onde se converteria em cinzas.

Wednesday, May 09, 2007

Duas moedas para os cardíacos


Caminhava eu ontem pela Avenida de Roma. ao encontro da minha mãe e da minha irmã, quando reparei na senhora que participava na campanha de recolha de donativos para o tratamento de doentes cardíacos. Todos os transeuntes inventavam as melhores estratégias para se desviarem do seu rosto sorridente. Eu, pelo contrário, alterei a minha rota para entrar em colisão e a poucos metros de a abordar já tinha um par de moedas sonantes na mão. A senhora parecia espantada com o meu comportamento e asseverou ser "muito simpático" ver alguém a contribuir sem haver necessidade de ela o pedir, esperando receber em troca o infinitésimo "já dei" ou "não, obrigado". Eu nada comentei enquanto ela me colocava o autocolante na camisa preta e nem sequer tirei os óculos escuros.

Era uma segunda-feira igual a todas as outras

"Do you know how pale and wanton thrillful
Comes death on a strange hour
Unannounced, unplanned for
Like a scaring over-friendly guest you've
Brought to bed
Death makes angels of us all
And gives us wings
Where we had shoulders
Smooth as ravens claws"

Jim Morrison, A Feast of Friends

Thursday, May 03, 2007

Por vezes liberta demasiado


Pelas gotas da chuva tem passado a "gaffe" política do ano. Paulo Portas foi à Madeira anunciar aos eleitores insulares que "o trabalho liberta" e, embora seja óbvio que o recém-reeleito presidente do partido em que usualmente voto não queria homenagear a célebre frase "Arbeit Macht Frei", indissociável à iconografia dos campos de concentração nazis, perdeu uma excelente ocasião para ficar em Lisboa a escrever uma das suas iluminadas crónicas inspiradas nos filmes em cartaz nos cinemas portugueses que compensam outros conteúdos da revista "Tabu". Não só por isso - e não principalmente por isso - é agradável saber que António Pires de Lima promete usufruir do direito a constituir tendências dentro do CDS-PP. Acredito que tanto o partido como a direita e o resto do espectro político têm muito a ganhar com a visão descomplexada das novas realidades que Pires de Lima debate nas horas que rouba à sua actividade de gestor de empresas.

Por esta é que não estava à espera


Estava marcado um duelo para a noite desta quarta-feira. E ainda por cima um duelo falado em português. Dois jovens futebolistas entraram no relvado de San Siro para ajudar a levar as respectivas equipas à final da Liga dos Campeões mas sobretudo para decidir qual deles seria considerado o jogador do ano. Mesmo sem ter prestado a devida atenção aos dramáticos acontecimentos devido às agruras do fecho de mais uma edição, admito que o resultado final e as restantes estatísticas dizem tudo: o brasileiro Kaká receberá essa distinção a não ser que o AC Milan, humilhado ao longo da temporada italiana pela superioridade dos vizinhos do Inter, sucumba à curiosa constelação de talentos discretos que é o Liverpool. Para Cristiano Ronaldo resta ter esperança de que o vento seja favorável e Mourinho não recupere o atraso do Chelsea em relação ao Manchester United. Mas a triste realidade é que nada saiu bem ao extremo quando a equipa (e ele próprio) mais necessitava do seu talento.

Pelo menos deixa obra feita (ainda que debaixo do solo)

Estava escrito nas estrelas que Marques Mendes ainda iria derrubar uma figura de topo da política nacional. A honra coube a Carmona Rodrigues, que ainda assim teve sorte: uns dias antes e o Túnel do Marquês acabaria por ser inaugurado pelo responsável do economato na Câmara Municipal de Lisboa.

Provérbios leva-os o vento

Diz que músicas dos anos 70 assobias e dir-te-ei como estás.
d