Tuesday, October 31, 2006

Quem anda à chuva por vezes cobre-se de lama

Sei por experiência própria que o exercício da sátira é tão arriscado quanto caminhar no arame e sem rede. A fronteira entre humor e vilania torna-se de tal forma ténue que basta um pequeno deslize para que resulte algo inqualificável quando mais não se pretendia do que conquistar um sorriso (ou até uma risada) a um eventual leitor do nosso trabalho. Ao longo dos últimos anos aconteceu-me cair em falso um punhado de vezes, mas o rol poderia ser quilométrico se não exercesse uma saudável autocensura antes de enviar textos para os paginadores. Tendo tudo isto em conta, permito-me condenar a menção à notável do "glorioso" Leonor Pinhão que aparece hoje na página de humor do "Record". Além do tremendo mau gosto da piada que lhe foi destinada, o facto de a jornalista com quem tive o prazer de trabalhar no "Público" ser actualmente colunista de "A Bola" deveria aconselhar maiores cautelas...

Plano pessoal de emprego

Estar desocupado tem as suas desvantagens. Acabo de ouvir aquela que me atura a sugerir que aproveite a minha barriguinha de considerável dimensão, aliada ao facto de não fumar, não beber (por aí além) bebidas alcoólicas e ter reservas inesgotáveis de paciência (embora admita que neste último caso não haja consenso...), e apresente candidatura para integrar a legião de representantes do Pai Natal que infestam todos os centros comerciais nos derradeiros meses de cada ano.

O melhor das estatisticas é que podem sempre ser contrariadas

Leio na imprensa matinal que o Sporting nunca conseguiu vencer uma equipa alemã na condição de visitante. Um facto que só reforça a minha convicção de que logo à noite estarei a festejar os golos de, "in no particular order", Liedson, Nani e João Moutinho.

Acumulam-se os sinais da iminência do apocalipse

Falando em causídicos, segue-se esta aparente criação da minha mente distorcida: uma advogada desloca-se a um estabelecimento prisional para visitar dois dos seus clientes quando se descobre que transporta consigo uma arma de fogo. A advogada replica que não sabe como a referida pistola, detida por um seu familiar, foi parar aos seus pertences. Mas a história soa ligeiramente mal, pois na véspera fora apreendido aos dois distintos hóspedes do Ministério da Justiça um plano de fuga que previa o sequestro de um guarda prisional com recurso a... uma tesoura das unhas? uma moeda comemorativa dos grandes portugueses que acompanha o "Diário de Notícias""? não, a uma arma de fogo! Escusado será dizer que a incauta advogada não foi detida, estando apenas forçada a termo de identidade e residência. Adoraria ter imaginação para tanto, mas mais uma vez a realidade ultrapassa a ficção a 200 km/h. A ler no "24 Horas" de hoje.

É uma questão de aproveitar o "slot"

Não deixa de ser comovente observar o afã com que Clara Pinto Correia escreve todos os dias no "24 Horas", não perdendo uma ocasião para vociferar os misteriosos denunciantes do alegado plágio de Miguel Sousa Tavares. Depois do juiz em causa própria, chegámos à era dos advogados de defesa em causa própria.

Monday, October 30, 2006

Alexandre O’Neill revisited

Ó Portugal, se fosses só três sílabas. De alumínio, que dava para transformar a varanda em marquise!

Eles que são azuis, brancos e encarnados que se entendam

Não faço a menor ideia de quais eram as intenções de Katsouranis quando realizou aquele corte que em bom futebolês poderá ser qualificado de "viril". Admito perfeitamente que não pretendesse ver um colega de profissão carregado para a mesa de operações e condenado a ficar meses afastado do que mais gosta de fazer. Mas ainda assim esta lesão que tanta polémica promete brotar entre dois certos e determinados clubes, aos quais nenhum tribunal neste país de brandos costumes parece ter coragem de dar um correctivo à grande e à italiana, levou-me a recordar uma frase recorrente: os meninos atiram as pedras a brincar mas as rãs morrem de verdade.

Quando as prioridades não têm juízo...

E não é que o inquestionavelmente bem-intencionado Rui Pereira, coordenador da Unidade de Missão para a Reforma Penal (não confundir com a União de Missão Não-Façam-Perseguições-e-Livrem-se-de-Disparar-Pois-Algum-Dia-Havemos-de-os-Apanhar), já tem uma lista de 29 crimes que "correspondem a prioridades na prevenção e repressão"? De entre o extenso rol sobressai uma assinalável adequação ao "zeitgeist" (terrorismo, tráfico de pessoas, imigração ilegal e crimes informáticos encontram-se entre os contemplados) mas também não foi esquecida a mais mediática das prevaricações: crimes sexuais contra crianças. Até aí, tudo belo. Estranha-se é que não tenha sido atribuída igual prioridade na "prevenção e repressão" aos crimes sexuais contra pessoas que já não sejam crianças. Apesar de um leitor atento dos assim chamados tablóides (a imprensa dita de referência tende a não ter espaço para estas notícias...) ser capaz de jurar que não há dia em que uma ou mais mulheres denunciem violações com maior ou menor grau de brutalidade. Parafraseando Augusto Gil, "mas as adultas, senhor Pereira, porque lhes dais tanta dor"?

Momento alto de um fim-de-semana lusitano

Tive a sexta-feira, o sábado e o domingo abrilhantados pela melhor prenda que recebi – sem desprimor para as restantes prendas e restantes ofertantes, fique desde já assente... – por ocasião do meu 34.º aniversário. Contrariando indicações superiores da Secretaria de Estado do Orçamento do agregado familiar Ralha-Ramos, ultimamente sobrecarregado (qual erário público dos Estados Unidos) com despesas de Defesa, a minha "better half" presenteou-me com uma caixa de DVD que contém a primeira temporada da série televisiva norte-americana "Lost". Pude constatar o que já desconfiava graças às fugazes e intermitentes ocasiões em que estive em casa ou na redacção à hora a que a RTP transmitia aquilo que num país perfeito seria líder de audiências: a criação de J. J. Abrams é um momento de reconciliação com o pequeno ecrã talvez só comparável a "Twin Peaks". Faça chuva ou faça sol ficam desde já reservadas umas horitas do próximo fim-de-semana para seguir as aventuras do médico Jack, da misteriosa Kate, do renascido Locke, do fura-vidas Sawyer e do iraquiano Sayid numa ilha tropical que constitui uma das mais poderosas metáforas do mundo pós-11 de Setembro (e não, não é só por envolver quedas de aviões).

Friday, October 27, 2006

Um típico momento do género "só para contrariar"

Vou andar com uma máquina fotográfica digital na mão para eternizar em milhões de pixéis a expressão de certos e determinados historiadores quando os telespectadores da RTP elegerem como melhor português de sempre um tenebroso ditador conhecido pela forma impiedosa como coarctou as liberdades individuais através da vigilância e repressão policial e levou a cabo perseguições sanguinárias àqueles que tentaram contrariar as suas ideias. Vá lá que ainda lhe sobrou tempo para orientar a reconstrução de Lisboa.

Thursday, October 26, 2006

Os inimigos dos inimigos do bom gosto meus amigos serão?

Leio com agrado que a atroz "Floribella" foi massacrada no que a "share" diz respeito pela estreia da nova telenovela da TVI. Mesmo tendo em conta que a neófita "Doce Fugitiva" pretende ser um clone da tortura televisiva que corrompe os espíritos dos mais pequenos e dos mais fracos de espírito e ameaça a frágil saúde da jovem Luciana Abreu - entre gravações, concertos e sessões de autógrafos não há mês em que a moça não vá parar às urgências hospitalares... -, apraz-me constatar que os telespectadores portugueses são capazes de manejar o telecomando. A personagem interpretada pela jovem (mas decididamente mais saudável) Rita Pereira também vai parar a uma mansão em que o mais velho de uma carrada de órfãos milionários é o "romantic interest" pronto-a-curtir, mas (mesmo sem ter visto ou fazer intenção de ver um único episódio) parece-me evidente que existe uma diferença fulcral entre as duas historietas adaptadas de originais sul-americanos: enquanto a pobrezinha-mora-longe da SIC é muito boazinha e tem cara de quem vai desatar a chorar a qualquer instante, a homóloga da TVI é vivaça, desempenha o papel de uma pretensa freira - como se viu com "O Crime do Padre Amaro", a mistura de "sex appeal" e pertença ao clero tem efeitos vasodilatores para o respeitável público - e provavelmente levará a que insuspeitos pais de família e adolescentes tardios procurem, tão discretamente quanto lhes for possível, convencer o resto dos respectivos agregados familiares a trocar o telelixo que já conhecem pelo telelixo que vão passar a conhecer.

Contributo para a eleição do pior português de sempre

O mundo pula e avança: se D. Nuno Álvares Pereira era o Condestável então José Castelo Branco é o "conde" detestável.

As maravilhas continuam a suceder-se

Desta vez foi um conhecido pedófilo a ser libertado (com a prestimosa ajuda do omnipresente causídico João Nabais, cuja carteira de clientes acaba de ser enriquecida com José Castelo Branco) devido a excesso de prisão preventiva. Aconteceu após a defesa do treinador de futebol Pedro Inverno, condenado a 19 anos de cadeia por 54 crimes de natureza sexual perpetrados sobre menores, ter dado entrada com um "habeas corpus" - expressão que até encaixa bem num processo que diz respeito a actos cometidos nas imediações do Parque Eduardo VII - no Tribunal da Relação de Lisboa. Recorda o sempre presente "Correio da Manhã" que nos últimos anos saíram em liberdade pelo mesmo motivo o assassino do comerciante lisboeta apelidado de o "Rei do Bacalhau" e três dos 17 membros de um gangue condenados por assaltos à mão armada e suspeitos do homicídio de um agente da Polícia Judiciária. Fico à espera (sentado na poltrona e numa divisão com acesso à internet) que um ou uma dos meus camaradas de profissão mais dados ao jornalismo de causas escrevam uma série de artigos sobre este tema.

O Papagaio Morto agita as plumas

Alertaram-me para o facto de um recente "post" deste ultimamente semiparalisado blogue ter merecido honras de citação na edição desta semana da revista "Visão". Depois de tão simpática referência no navio-almirante da imprensa canhota lusitana - o diário da Rua Viriato foi excluído destas contas devido ao seu ideologicamente suspeito director, pessoa que há uma mera dúzia de anos ainda conheci na "rive gauche" - o Papagaio Morto não sabe o que mais almejar. Terá o "Avante!" coluna de citações? E sem ser em coreano...

Wednesday, October 25, 2006

Uma receita para acabar com a crise

Era bom que todos os portugueses fossem como os dirigentes do Sport Lisboa e Benfica, capazes de participar disciplinarmente de um homem do apito que lhes ofertou uma grande penalidade devido a uma falta cometida fora da grande área e ainda expulsou um jogador do Estrela da Amadora que nada tinha feito. Caso este grau de exigência se generalizasse é que o país voltaria a andar para a frente.

Monday, October 23, 2006

E eis que o Blogger mostra sinais evidentes de sandice

Que tal escrever um "post" apesar de o teclado abster-se de permitir acentos? Eis um desafio para um utilizador do idioma oficial do lusitano povo. E parece que o ultrapassei de forma assaz honrosa. Projectos para o futuro? Seria uma bela ideia escrever um romance daqueles que pesam meio quilo com o mesmo "handicap"...

Thursday, October 19, 2006

Quando um gesto vale mil palavras

Não sou grande apreciador da palavra "ternurento" e quando a utilizo normalmente sai da minha boca salpicada de sarcasmo. Mas foi essa proscrita palavra que me veio à cabeça ao cruzar-me duas vezes, no espaço de meia-hora, com um casal de jovens namorados surdos-mudos que ontem à tarde passeavam pela zona do Saldanha. Ela, muito branca e com aspecto de menina mais pequena do que os documentos de identificação deixariam adivinhar. Ele, mulato sorridente com ar de tipo em quem se pode confiar. Os dois, abraçados e a cortejar-se através de uma sucessão de movimentos de mãos indecifráveis para os não-iniciados. Tudo o resto à sua volta, incluindo o ensurdecedor ruído da cidade a preparar-se para a hora de ponta, deixara de existir e de importar.

Uma quarta-feira de cinzas

Trinta euros depois, lá fiz a minha estreia a assistir no Estádio de Alvalade a um jogo da Liga dos Campeões - uma competição que há cerca de cinco anos me causa uma obsessão comprovada pelo facto de neste momento estar a um passo de entrar no "top 1000" mundial (entre mais de 200 mil participantes) do jogo de Fantasy Football do "site" da UEFA - e não posso dizer que tenha dado o dinheiro por bem gasto. Quanto à arbitragem, nada a apontar: perdoou um penálti ao Sporting, outro ao Bayern e houve coragem no segundo amarelo ao impiedoso Schweinsteiger. Pena é que passar a jogar contra dez tenha amaciado e desinspirado uma equipa que tinha quase 45 minutos para marcar dois golos que garantiriam, no mínimo dos mínimos, a qualificação para a Taça UEFA. Quase todos (Caneira, Polga, Tonel e até o por vezes injustificável Tello foram as honrosas excepções) tiveram culpa do que aconteceu na segunda parte, mas Paulo Bento é o primeiro responsável. Em primeiro lugar, pela substituição de Carlos Martins por Yannick Djaló ao intervalo. É verdade que o treinador não poderia adivinhar que ficaria em vantagem numérica dentro de poucos minutos, mas a um criativo como o número 10 do Sporting até se deve perdoar uma desconcentração como a que permitiu o golo dos bávaros. Bem pior foi a segunda mexida: Bueno poderá até ser melhor dentro da grande área - no lance em que o irritante Sagnol agarrou Tonel esteve quase a fazer o golito de um empate que por essa altura já saberia a ginjas - mas a saída de Alecsandro paralisou a movimentação do ataque do Sporting. Claro que é fácil ter grandes certezas de treinador de bancada "a posteriori", mas deveria ter sido o inoperante Nani a recolher aos balneários mais cedo. Resta a compensação de que na próxima jornada, em Munique, Schweinsteiger não terá hipótese de voltar a marcar golos a Ricardo. A não ser que resolva imitar aquele famoso apanha-bolas brasileiro...

Tuesday, October 17, 2006

Cenas do jornalismo português que gostaríamos de ver

Parece que Maria João Avillez, a única jornalista portuguesa capaz de entrevistar a irmã mais nova sem nunca referir o grau de parentesco, acaba de transferir-se do "Expresso" (a que, em tempos idos, apelidava de "O La Scala dos jornais") para a "Sábado". Bem segura no "Público" continua a semi-homónima Maria João Seixas, cujas longas entrevistas intimistas na revista dominical "Pública" têm contribuído de forma decisiva para a destruição da floresta nacional. Ora, sendo impossível pedir algo mais estranho a Maria João Avillez do que aquilo que já fez - em boa verdade falta-lhe entrevistar o presidente da CIP sem nunca referir que é o seu marido -, deixo uma humilde súplica a Maria João Seixas: desloque-se a Lagos e faça uma entrevista ao misterioso doente psiquiátrico poliglota que tenha a seguinte primeira pergunta: "Rapaz barbudo de identidade desconhecida, diga-me quem é”.

Talvez seja de ver demasiado a SIC Radical...

De há uns tempos para cá convenci-me de que Hermínio Loureiro é o George Constanza do futebol português. Por enquanto o ex-secretário de Estado do Desporto e actual presidente da Liga de Clubes só partilha o físico com a personagem criada pelo actor Jason Alexander. No entanto, palpita-me que até ao final do mandato o afã regenador irá derreter-se como um cubo de gelo em copo de "whisky", transformando Hermínio num "looser" simpático (desde que em doses diminutas) igual a George. Está ainda por apurar quem é o Cosmo Kramer e o Jerry Seinfeld do futebol à beira-mar plantado. Aceita-se apostas.

Friday, October 13, 2006

A cowboyada apitou muitas vezes

A tradição diz que os futebolistas são incultos e não devem muito à inteligência. Dá-se um doce a quem continuar a acreditar na tradição depois de ter lido a entrevista de Rui Jorge ao "Record", provavelmente o jogador português que até hoje melhor compensou com o intelecto aquilo que lhe faltava em físico e técnica. Sobre o pré-moribundo processo do "Apito Dourado", o ex-lateral-esquerdo do FC Porto e do Sporting, cliente habitual de cartões vermelhos mostrados por gigantes da arbitragem como Paulo Paraty, o entrevistado referiu apenas o seguinte: "Joguei seis anos no FC Porto, sete no Sporting e é uma questão de ver quantas vezes fui expulso num lado e noutro. Pergunto: será que mudei tanto a minha atitude e personalidade desde que fui para Alvalade? Eu tenho a certeza de que fui sempre igual." Como diria o homem do cachimbo, "elementar, caro Watson"...

Sai uma pergunta retórica para a mesa do canto

A minha vizinha do lado, senhora de idade incerteza mas certamente contemporânea do marechal Carmona, foi alvo de uma tentativa de assalto na quarta-feira. Um jovem amigo do alheio tentou arrombar-lhe uma das janelas da varanda às cinco da tarde. Não às cinco da manhã, como provavelmente terá acontecido uns metros ao lado, na minha casa, mas sim às cinco da tarde, às cinco em ponto da tarde. Muito haveria a dizer sobre isto. Estando com falta de tempo e de vontade para maiores esforços, questiono-me quantos dos políticos e jornalistas que choram lágrimas de sangue quando as forças da autoridades terminam longas e arriscadas (para eles e para qualquer transeunte) perseguições de fugitivos - invariavelmente jovens "que andavam com más companhias" e "não eram tão maus quanto isso" - com recurso a armas de fogo habitam em condomínios fechados ou prédios com seguranças à porta.

Monday, October 09, 2006

Em directo dos Recursos Humanos

Dentro de minutos vou rescindir o contrato que ainda me ligava à minha moribunda entidade empregadora. Suponho que poderei aproveitá-los para recordar os bons e os maus momentos que passei nestes metros quadrados onde provavelmente nunca mais irei entrar na minha vida. Por vezes foi divertido, outras triste, muitas outras rotineiro. Arrependo-me de muito pouco e parto com a consciência absolutamente tranquila. Mas acabou de vez. Como diria uma célebre personagem de Philip K. Dick, não passaram de "momentos perdidos no tempo como lágrimas na chuva".

Thursday, October 05, 2006

Apenas uma boa razão para fazer ponte e ir para o Algarve

Um dos hábitos mais espalhados na esquerda portuguesa com problemas de consciência é culpar a teimosia de Salazar e Caetano pelos ligeiros contratempos que se dignam descobrir na "descolonização exemplar". Curiosamente nunca se ouve as mesmas vozes tirar outra óbvia conclusão desse raciocínio: a corrupção generalizada e constante turbulência que serviu de permanente desporto aos obreiros do 5 de Outubro de 1910 foram as principais razões - superando, provavelmente, a cumplicidade da Igreja Católica e o estrutural atraso da maioria do território nacional - para a extrema longevidade do Estado Novo. É irónico que os velhinhos republicanos que desfilavam nos tempos da televisão a preto e branco tenham ido encontrar o Supremo Arquitecto sem nunca se aperceberem do mal que fizeram a Portugal. Pela minha parte, vejo apenas uma vantagem nos acontecimentos de há 96 anos: apesar de todos os seus defeitos agrada-me ter Cavaco Silva como Chefe de Estado em vez do duque de Bragança.

Wednesday, October 04, 2006

Suponho que me irei arrepender disto...

Tenho quase a certeza que a história de "Transe" é tão boa que nem a adição das bem conhecidas particularidades de Teresa Villaverde e Ana Moreira pode estragar o filme.

Tuesday, October 03, 2006

Uma concessão (sem exemplo) à idolatria

A minha cara-metade tinha assuntos a tratar perto do Campo dos Mártires da Pátria e, num rasgo de cavalheirismo facilitado em que está "between jobs", ofereci-me para a ir esperar. Dei por mim com tanto tempo para queimar que, esgotada a leitura dos cinco diários que me auxiliam a evaporar a conta bancária, dediquei longos minutos de atenção à estátua do célebre dr. Sousa Martins. Em redor do pedestal jaziam centenas de mensagens talhadas em pedra, agradecendo graças concedidas e apelidando de "amigo" e de "irmão" o benemérito médico que há mais de um século auxiliava os necessitados de Lisboa pela simples bondade do seu coração. Senti neste final de tarde as dores e a gratidão dos que acreditam ter sido auxiliados pelo espírito do grande homem e o meu cinismo habitual refreou-se ao ponto de nem sequer zombar dos muitos erros de ortografia que estavam à minha frente. Olhei para o alto, encarei a estátua paga por subscrição pública e até concedi que, apesar das minhas convicções protestantes, algumas formas de adoração de ídolos são minimamente compreensíveis.

Uma homenagem devida

Sinto uma incontida alegria por, apesar dos estafados argumentos do género "ele é um de nós", o povo brasileiro ter forçado o corrupto sapo barbudo à segunda volta. Para anular o meu preconceito, reforçado pelo grito "êta povinho bunda!" curiosamente inventado por humoristas d'além-mar, só falta a derrota total do líder da quadrilha pêtista. É um cenário improvável, mas se acontecer até sou capaz de ver uns episódios de telenovelas da Globo em sinal de agradecimento.

Matéria de fé

Gosto do Outono e cumpro o meu aniversário no final deste mês. Basta-me isso para acreditar que Outubro será muito melhor do que o seu antecessor.
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