Friday, December 29, 2006
Salvemos o camisola 10 e o lince da Malcata!
Entre as jovens estrelas do futebol sportinguista existe um génio, um habilidoso e um cerebral. O último é João Moutinho, cuja inteligência, maturidade e inesgotável espírito de sacrifício permitem que seja um símbolo e um patrão do meio-campo à saída da adolescência. O do meio é Nani, cujas fintas imprevisíveis confundem defesas e fazem salivar os clubes europeus com milhões de euros de sobra para gastar em "novos Cristianos Ronaldos". O primeiro é Carlos Martins, dotado de uma visão de jogo e de uma capacidade técnica que fazem da bola um prolongamento da chuteira. O último é inquestionável, o do meio é a estrela em ascenção e o primeiro é o que em todas as épocas, com regularidade de relógio suíço, enfrenta novos obstáculos à sua afirmação. Tive de concordar com Paulo Bento quando este sublinhou, numa desassombrada conferência de imprensa, que o camisola 10 do Sporting tem chocado de frente com a generalidade dos "misters" que o treinaram. Mas também reconheço um mal-amado quando o vejo à minha frente: o melhor futebolista português a jogar em Portugal foi retirado das convocatórias do Sporting por menos de um décimo da inconstância e incapacidade de passar a bola a colegas melhor posicionados demonstradas em muitos jogos por Nani, cujo futebol funciona melhor nos resumos televisivos do que nos 90 minutos passados no estádio.
Ainda a tempo para ser nomeada para o prémio de piada mais seca de 2006...
Está provado por a+b que os juizes bissexuais são os mais indicados para os tribunais de competência mista.
Nice work if you can get it (and you get it if you try)
Então não é que o ministro António Costa pretende traçar o perfil das prostitutas brasileiras a exercer em Portugal? Garante-o o bem informado "Correio da Manhã" na edição de hoje, acrescentando que o estudo será efectuado com a preciosa colaboração de elementos da PSP, GNR e Polícia Judiciária, os quais apresentarão um questionário "pré-definido, anónimo e voluntário" às senhoritas detectadas em casas de alterne ou situações análogas de prostituição. Parece-me tudo isto muito bem, mas aponto um ligeiro senão: será mesmo necessário que os mediadores do questionário pertençam às forças policiais? Tenho a certeza de que muitos arguidos no processo "Apito Dourado" se encarregariam de bom grado de tão espinhosa missão, para a qual estão mais do que qualificados, desde que fosse equiparada a serviço comunitário por um juiz de boa vontade...
Wednesday, December 27, 2006
O Papagaio Morto agradece...
...ao camarada-amigo Henrique Raposo pelas suas simpáticas palavras no blogue da Revista Atlântico. Apesar de se referir ao autor deste blogue como "um tipo roliço", o que é o tipo de expressão que nem nas sessões contínuas do Cinebolso tem contexto social apropriado para ser utlizada.
O respeitinho é muito bonito
Quem tem o mau hábito de perder minutos de vida a passear por este blogue sabe que um dos temas recorrentes é a crítica dos critérios que as televisões seguem aquando da elaboração de resumos de jogos de futebol. Até ontem via-me forçado a atribuir tal fixação à paranóia que habita as mentes de grande parte dos sportinguistas, eternamente convencidos que o poder dos "seis milhões" e de "sua santidade" leva a que entradas passíveis de cartão vermelho e golos mal anulados por pretenso fora de jogo tendam a não aparecer na resenha de jogadas que em dois ou três minutos indica o que aconteceu de mais importante aos que não puderam ou não quiseram ver o desafio inteiro. Culpava-me por tamanha perturbação até ler no “Correio da Manhã" de ontem que, no decurso de uma gestão de crise que lhe fora encomendada por Pinto da Costa em Outubro de 2003 - Deco havia atirado uma bota em direcção ao árbitro Paulo “Atira-te a ele, Luisão!" Paraty e, caso o gesto fosse considerado agressão, haveria lugar a longa suspensão para o patrão do meio-campo "fecêpista" -, Valentim Loureiro telefonou para a RTP e pediu que não fossem reveladas imagens do arremesso de calçado. A acreditar no "Correio da Manhã", o interlocutor do então presidente da Liga de Clubes foi deveras prestável, privando os telespectadores da televisão pública de algo com inquestionável interesse noticioso. Visto que o caso não envolve incêndios e assessores de ministros pode ser que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social seja lesta e vigorosa no apuramento dos factos e eventual punição dos envolvidos...
Vinde a elas as criancinhas
Aquilo que mais me causa espanto e pavor na história da portuguesa de 12 anos que foi mãe há três meses e cujas dúvidas quanto à identidade do co-responsável terão sido resolvidas pelo facto de um suspeito assumir a menina enquanto o outro prefere distanciar-se? O facto de a rapariga de 12 anos - identificada na reportagem da TVI mas a quem, sendo menor (e com aspecto de criança), prefiro tratar por T. – ser neta de uma avó que teve o primeiro filho aos 14 e bisneta de uma mulher a quem o mesmo sucedeu aos 16. O ciclo da desmiolada miséria acelera de geração para geração, levando-me a temer que a primogénita de T. lhe faça uma surpresa ao cumprir o décimo aniversário. Pode isto resolver-se com a liberalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas? Duvido muito. Penso que nem sequer se resolveria se o limite avançasse até aos 18 anos.
Demonstração de espírito natalício
Tendo em conta a prematura saída em liberdade do historiador negacionista David Irving, condenado pela Áustria a três anos de cadeia por negar a existência de uma política sistemática de extermínio dos judeus pelo regime nazi, espero que esta demonstração de clemência permita que sejam igualmente libertados os milhares de historiadores presos ao longo dos últimos anos nos países ocidentais por negarem a existência de sistemáticos crimes contra a Humanidade perpetrados pelos dirigentes da União Soviética.
Tuesday, December 26, 2006
E os dez melhores filmes de 2006 são...
10.º Le Temps qui Reste, de François Ozon
A viagem de um homem em direcção à sua morte não é uma proposta que se deva aceitar de ânimo leve. Há algo no modo como o fotógrafo Romain (Melvin Poupaud) decide não perder as escassas semanas de vida restantes com tratamentos dolorosos e de duvidosa utilidade que poderá enfurecer alguns espectadores, mas a forma como decide atar as pontas soltas da sua vida afectiva e a comovente relação de igual para igual com uma avó interpretada pela diva envelhecida Jeanne Moreau faz da última longa-metragem escrita e realizada por François Ozon uma experiência muito mais aprazível do que se poderia esperar.
9.º Volver, de Pedro Almodóvar
Depois de uma desastrosa incursão pelo cinema norte-americano, Penélope Cruz recebeu o "beijo da vida" do seu compatriota. Numa história de mulheres que até metade do filme parece ser também uma história de fantasmas - num "plot twist" que compensou a falta de fulgor demonstrada pelo mestre Shyamalan -, a Raimunda desempenhada pela ex-namorada de Tom Cruise tem uma força raramente encontrada nas personagens femininas da sétima arte. Além de atributos físicos decalcados das grandes estrelas do cinema italiano de meados do século passado que nem a um homossexual encartado como Almodóvar podem ser indiferentes.
8.º Munich, de Steven Spielberg
Só um cineasta judeu (ainda que não muito convicto e militante) como Steven Spielberg poderia arriscar-se a assinar um filme em que os métodos dos vingadores seleccionados pelas autoridades israelitas após o massacre dos atletas olímpicos pelo grupo palestiniano Setembro Negro são tão questionáveis quanto os dos terroristas que perseguem. Numa história contada em tons de cinzento sobressaem as dúvidas de Avner (Eric Bana), líder de equipa esmagado pelo sacrifício pessoal, e as certezas do operacional Steve (Daniel Craig em estágio para o mais famoso agente secreto de Hollywood), para o qual todas as acções são legítimas desde que praticadas contra os inimigos do povo escolhido.
7.º The Aristocrats, de Paul Provenza
A comédia mais popular do ano foi "Borat" mas isso só indica que poucos deram pela efémera exibição deste documentário em que dezenas de comediantes americanos e britânicos arriscam variações da mais suja e ofensiva anedota de sempre. Além das gargalhadas impossíveis de conter perante uma avalanche de profanidades irreproduzíveis num blogue familiar é imperioso encarar "The Aristocrats" como uma reflexão acerca dos limites do humor e do modo como estes se alteram ao longo dos tempos.
6.º United 93, de Paul Greengrass
Optando por um registo próximo do documentário graças ao qual pouco sabemos acerca dos passageiros e tripulantes do malfadado voo 93 da United Airlines, o britânico Paul Greengrass dedicou anos de vida a construir um argumento em conjunto com as famílias das vítimas que responderam aos terroristas com um acto que teve tanto de heroísmo quanto de puro instinto de sobrevivência. Ao contrário dos que viajavam nos dois aviões que chocaram contra o World Trade Center, os ocupantes do Boeing que se despenhou numa zona rural da Pensilvânia sabiam perfeitamente o que estava em jogo. O retrato daquilo que tentaram fazer e da desorientação de todas as autoridades que supostamente os deviam ter auxiliado é um testemunho poderoso do dia mais negro do século XXI.
5.º Paradise Now, de Hany Abu-Assad
Dois amigos palestinianos deixam-se recrutar por um grupo que lhes concede o glorioso destino de serem mártires numa movimentada rua de Telavive. Além de mostrar a falta de horizontes que leva jovens razoavelmente iguais a quaisquer outros a aceitarem tornar-se bombistas-suicida, o filme tem a coragem de denunciar o oportunismo e hipocrisia das organizações terroristas - numa cena em registo de comédia negra a emotiva mensagem de martírio de uma das personagens principais acaba por ser repetida devido a problemas técnicos com a "camcorder" de serviço - e de espelhar as dúvidas existentes entre os palestinianos quanto à melhor forma de lutar contra a potência ocupante.
4.º Jarhead, de Sam Mendes
O realizador britânico de ascendência portuguesa continua a pagar o preço de ter obtido demasiado reconhecimento com a obra de estreia. Tal como já havia acontecido com "Road to Perdition", "Jarhead" foi injustamente esquecido nas entregas de prémios cinematográficos do ano passado, o que em nada desmerece a adaptação das memórias que Anthony Swofford guardou da primeira Guerra do Golfo. Ao longo de duas horas é-nos oferecida a angústia bem-humorada de soldados para quem longa se torna a espera até puderem expulsar as tropas iraquianas do Koweit. Sem chegar aos limites da insanidade de "Full Metal Jacket", a obra protagonizada por Jake Gyllenhaal, Peter Sarsgaard e Jamie Foxx é provavelmente o melhor filme de guerra em que as personagens principais não chegam a matar ninguém.
3.º Brokeback Mountain, de Ang Lee
Os mais cínicos poder-lhe-ão chamar um filme "gay" para homofóbicos. Os restantes apreciaram "Brokeback Mountain" como uma história de amor impossível devido às circunstâncias, ao mundo que rodeia os dois amantes e à relutância que um deles tem em considerar aquilo que sente como algo aceitável. Mais do que o exuberante artista de rodeos Jack Twist (Jake Gyllenhaal), a chave do sucesso do filme reside no contido e perturbado Ennis del Mar (Heath Ledger), incapaz de assumir-se quando não se encontra nas recorrentes "pescarias" na montanha que dá nome à longa-metragem que acabou por ser a principal derrotada nos Óscares de 2006.
2.º Children of Men, de Alfonso Cuarón
Quase ninguém prestou a devida atenção a esta distópica visão do futuro próximo. Passado num ano 2027 em que os humanos deixaram de ter a capacidade de procriar, o filme urdido pelo mexicano Cuarón com base num livro da escritora de policiais P. D. James serve para cimentar a imagem de Clive Owen enquanto o Humphrey Bogart dos tempos modernos. O seu funcionário público Theo Faron encetará uma jornada de reconquista da fé a partir do momento em que aceita conduzir para fora de Inglaterra uma jovem imigrante ilegal que logrou engravidar. A cena em que ambos saem de um prédio semidestruído numa cidade costeira transformada em gueto, interrompendo por segundos violentos combates entre forças governamentais e milícias étnicas, é um momento mais religioso que o cinema teve para oferecer ao longo de 2006.
1.º A History of Violence, de David Cronenberg
Devemos a David Cronenberg, Viggo Mortensen e Maria Bello a única obra-prima deste ano cinematográfico. Entre Tom Stall, o pacato pai de família e dono de um estabelecimento de restauração transformado em herói ao matar dois "serial killers", e Joey Cusack, "gangster" de Filadélfia com um historial de malfeitorias que sobreviveu ao seu misterioso desaparecimento, há demasiados pontos em comum. Tantos que não demora até Edie Stall começar a perceber que o marido e pai dos seus dois filhos está longe de ser o homem que imaginava. Baseado numa "graphic novel" assaz liberal no derrame de hemoglobina, "A History of Violence" impressiona menos pelas cenas de violência terrivelmente cruas do que pela intensidade dos desencontros daquilo que em tempos foi uma família feliz.
Terceiro balanço de 2006
O Papagaio Morto tem o prazer de anunciar que o acontecimento do ano foi... a queda de neve em Lisboa. O impensável ocorreu perto das três da tarde de 29 de Janeiro, um domingo frio que tinha uma na manga para aqueles que o viviam. Estava em casa da minha mãe e recebi um telefonema em que ela, prestes a regressar das compras com a minha irmã e a minha sobrinha, me intimou a dirigir-me para a janela mais próxima. Segundos depois estava maravilhado com a improbabilidade do que acontecia. Leve e branca, branca e fria. Telefonei para a minha "better half" para que também ela contemplasse o espectáculo mas a Almirante Reis só mais tarde teve direito aos flocos vindos do Norte que já caíam em Alvalade. Corri para a rua e não tardou a que o meu sobretudo ficasse coberto daquilo que antes só havia encontrado numa mágica viagem à Serra da Estrela. Recordo-me dos gritos da Carolina, ainda hoje convencida ao rever vídeos daquela tarde de que nada se passou além da queda de chuva. E de uma estranha alegria por testemunhar aquilo. Tanto assim que me atrevo a prever que as alterações no clima denunciadas pelo "ex-próximo presidente dos Estados Unidos da América" Al Gore permitirão que dentro de poucos dias volte a nevar em Lisboa, evitando que os netos que espero vir a ter à minha volta tenham de me ouvir relatar todos os anos como numa bela tarde de Janeiro a neve visitou a capital.
P.S. - Claro que houve outro acontecimento do ano. Demorou mais oito meses a verificar-se mas no dia 29 de Janeiro seria mais previsível do que o nevão. Ainda hoje vivo as suas consequências negativas, valendo-me a compensação de ter a consciência tranquila. A corrente era demasiado forte e, com alguma injustiça pelo meio, cumpriu-se o mar. Nada mais do que isso.
Friday, December 22, 2006
Não há-de ser uma carta fora do baralho
Soube de fonte segura que a implicável ofensiva da ala direita do PS contra Ana Gomes gerou intensas movimentações entre os "headhunters" políticos do Médio Oriente. Tanto o Hamas como o Hezzbollah têm a secreta esperança de que a eurodeputada aceite assumir o "master franchising" dos respectivos partidos para o território português. E o Partido Baas do Iraque ainda não perdeu a esperança de vencer a corrida...
Confissão de um fura-f...
É lamentável, mas a não tive condições objectivas para participar da iniciativa global de orgasmos programada para as três da tarde de hoje. Resta-me a compensação de que a paz mundial sempre me pareceu um conceito ligeiramente sobreavaliado.
Wednesday, December 20, 2006
Assim é difícil chegar a homem do ano para a revista "Time"
Hoje de manhã, enquanto usava o cachecol como um lenço de beduíno no deserto para evitar que o meu nariz congelasse e tombasse no chão da paragem de autocarro, tive uma ideia que poderá revolucionar o modo como os transportes funcionam dentro das grandes cidades. Pena é que agora, por mais voltas que dê na cabeça, não guarde a mais ténue lembrança daquilo em que consistia a minha invenção. Da próxima vez que for acometido de um ímpeto criativo espero ter o Moleskine no bolso do casaco.
Reviver o passado em Berna
Mais de 11 anos após concluir a licenciatura que tantas olheiras me provocou regresso à Avenida de Berna para resgatar o meu diploma das caves bolorentas em que o fui deixando captivo, qual Infante Santo abandonado à sua sorte em Marrocos. Atravesso o portão do número 26-C munido do frágil comprovativo de que entreguei à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa a módica quantia de 6300 escudos em meados dos anos 90 do século passado, encaminho-me para o "edifício novo" e depressa percebo que os serviços académicos estão encerrados para duas horas de almoço. Volto para trás, sento-me num banco de jardim e fico por minutos a ler o "24 Horas" enquanto sou visado pelo Sol de Inverno antecipado. Ainda não é desta que o escritório de minha casa ganhou uma nova peça de decoração.
Ela, nem a morte supunha
À hora que escrevo este "post" não sei se há indícios suficientes de que algum dos dois suspeitos em poder da polícia britânica é o responsável pela morte de cinco jovens prostitutas em Ipswich. Espero, no entanto, que assim seja. Do terrível caso retenho que as autoridades foram céleres e diligentes na tentativa de enfrentar uma ameaça contra cidadãs que não há muito tempo atrás estariam indefesas por não pertencerem às fileiras da "regular honest people". Mas aquilo que mais me chocou foi a constante divulgação de imagens da última viagem de comboio de Anneli Alderton, uma prostituta de 24 anos, grávida de três meses, ainda não excessivamente vencida pela dureza da sua vida. A câmara de vigilância da carruagem guardou anódinos minutos da existência de uma mulher de cabelo louro apanhado, com trajes mais práticos do que propriamente entusiasmantes e uma mala onde se adivinha poderem estar arquivados preservativos, cosméticos, material de limpeza, eventuais acessórios para clientes que disso gostem e a carteira que no final da noite deveria ficar mais pesada. Observando as imagens é possível imaginar o que Anneli pensou com os seus botões durante aquela última viagem. Talvez se lembrasse das contas para pagar, das preferências dos "habituais", da criança que tinha a possibilidade de deixar nascer apesar de todos os inconvenientes imediatos de tal decisão, do frio atroz que enfrentaria na rua entre cada prestação de serviços. É plausível que tudo isto lhe tenha passado pela cabeça. De que estava a viver as derradeiras horas de vida é que não. Por isso é que as imagens da sua viagem no comboio são mais pornográficas do que qualquer coisa que Anneli tenha feito ao longo da sua curta vida.
Monday, December 18, 2006
A melhor frase relativa ao Natal que ouvi nos últimos dias
Depois do Sporting-Académica de má memória e razoável resultado segui uma curiosa conversa entre um moço da minha idade e o seu pai. Ao contrário das restantes trocas de palavras ouvidas na carruagem que percorria a Linha Amarela - quase todas dedicadas à atribuição antecipada do título ao FC Porto e à possibilidade de "apanhar o Bruno Paixão por aí e dar-lhe uma carga de porrada" -, o rescaldo do jogo estava longe de ser prioritário para aqueles meus correligionários. Muito pelo contrário: em causa estavam os atribulados preparativos da Consoada, debatidos em registo de tragicomédia. O pai mantinha-se impávido e sereno mas o filho chegou a exaltar-se várias vezes. Numa dessas ocasiões exclamou mais ou menos isto:
- A M. ainda remediou as coisas no ano passado quando anunciou à família toda que estava grávida... Mas a minha irmã não pode engravidar todos os anos para salvar o Natal!
- A M. ainda remediou as coisas no ano passado quando anunciou à família toda que estava grávida... Mas a minha irmã não pode engravidar todos os anos para salvar o Natal!
Valham-me as coordenadas!
Em Bagdad assassinam dezenas de desempregados de cada vez através da explosão de veículos armadilhados. Em Lisboa limitam-se a convocá-los para acções de formação excelentes para aliviar as estatísticas que Bruxelas irá apreciar no final do ano. Ainda bem que perdi o meu posto de trabalho no país certo.
Tuesday, December 12, 2006
Just to get things straight
Convém referir que Fidel Castro é o ditador que ao longo de décadas, e sem recorrer a eleições dispendiosas para o erário público, vem governando aquela ilha onde também existe uma base norte-americana que já motivou uma indignada intervenção de Ana Gomes no Parlamento Europeu.
May I recall my vote?
Li agora mesmo no Causa Nossa que Ana Gomes carregou ao longo dos anos uma garrafa de champanhe para beber no dia em que Pinochet "morresse ou fosse preso". A garrafa acabou por ser substituída, visto que entretanto deu-se a queda de Suharto - depois desta confissão, teme-se que os detractores da eurodeputada espalhem o boato de que todos os dias morre ou é preso um ditador no mundo -, mas foi aberta dias mais tarde graças aos esforços de Baltasar Garzón [a distinta representante do povo português em Bruxelas e Estrasburgo escreveu Baltazar Garzon, mas suponho que se trata do juiz espanhol]. Será que no frigorífico repousa agora uma garrafa de Água das Pedras pronta a ser aberta quando Fidel Castro morrer ou for preso?
Segundo balanço de 2006
O Papagaio Morto tem o prazer de anunciar que a Mulher do Ano é... Luciana Abreu. Anteriormente conhecida pela equívoca alcunha de "borboleta", a primeira gaiense a conquistar Portugal (abrindo o caminho para a cavalgada triunfal de Luís Filipe Menezes) não parou um segundo ao longo do ano, lamentando-se por as mesquinhas leis do espaço e do tempo não lhe permitirem estar ao mesmo tempo no estúdio de gravações, no Coliseu dos Recreios e numa assinatura de autógrafos. Estrela de uma telenovela importada da América Latina cujo enredo inclui príncipes encantados com coloração de cabelo duvidosa, diálogos insanos com árvores e um par de bruxas más em que a mãe tem praticamente a mesma idade da filha, a exausta Luciana terá sido a portuguesa que mais vezes recorreu às urgências hospitalares durante o ano, prevendo-se que a qualquer momento seja apresentada por José Sócrates como exemplo a seguir pelos preguiçosos trabalhadores portugueses. Espera-se que Deus esteja mais com ela do que com Alexandra Solnado e a ajude a suportar o ritmo de trabalho que a SIC e a sua família exigem, até porque o cardeal Saraiva Martins já tem candidatos a santos suficientes. Mas a sua integridade física precisa de ser garantida a todo o custo por outro motivo: qualquer infausto acontecimento levaria a que milhares de fãs de tenra idade (ou idade mental condizente) encetassem o maior (e ri-fixe) suicídio em massa desde que o profeta californiano Jim Jones conduziu os seguidores para a Guiana.
Primeiro balanço de 2006
O Papagaio Morto tem o prazer de anunciar que o Homem do Ano é... Tom Cruise. Ele merece. Produziu e interpretou o mais fraco capítulo da série "Missão: Impossível", protagonizou uma rábula inacreditável em torno do milagre da paternidade - e neste caso há que falar em milagre, sobretudo após a pequena Suri ter revelado ser tão parecida com o pai na capa da "Vanity Fair" que mentes maldosas pressentiram um exercício de clonagem -, foi despedido da Paramount, assumiu a gerência (por interposta pessoa) da United Artists e organizou a cerimónia de casamento mais pindérica dos últimos tempos. Por coincidência, ou talvez não, duas das suas ex-companheiras arriscam-se a ser nomeadas para o Óscar de Melhor Actriz em 2007.
Ataque fulminante a um dos símbolos da Avenida da República
Leio igualmente no "24 Horas" que os incansáveis inspectores da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) encerraram o restaurante Galeto, habitual pouso dos lisboetas noctívagos esfomeados que ainda não dependem das rondas da Comunidade Vida e Paz, alegando "falta de condições técnico-funcionais e falhas higieno-sanitárias na cozinha". A notícia deixou-me vagamente nostálgico. Durante a minha comissão de serviço no "Público" frequenteava esse tenebroso espaço, sempre na companhia do Pedro Camacho e de mais um ou outro indomável artífice do suplemento de Economia, nas madrugadas de quinta para sexta-feira e de sexta-feira para sábado. Mais tarde, numa altura em que o "Independente" fechava a edição às três ou quatro da manhã de quinta para sexta-feira, não raras vezes enganei a fome e fiz o balanço da semana ao lado do meu amigo Rui Flores. Rumava àquele lugar por duas únicas razões: era relativamente perto de casa e estava aberto a horas indecentes. Nunca gostei da comida e ainda menos apreciava o ambiente decadente. Mas pergunto-me o que será de todos os velhos boémios e das prostitutas cansadas se a ASAE obstar à rápida reabertura do Galeto.
Um susto ao sair da tabacaria
Entre os cinco jornais que compro e leio todos os dias há um que se destaca. Volta e meia penso que deveria deixar de o comprar. Chego a planear a alteração nos meus hábitos matinais mas depois lembro-me que o "24 Horas" é o diário mais barato e aquele que mais vezes é capaz de me provocar arrepios. Aconteceu mais uma vez esta manhã: a manchete garantia que o defesa-central brasileiro Luisão iria casar-se com uma "Miss Agro-Pecuária". Temi por instantes que a progressiva liberalização dos costumes fosse permitir que o esteio do Sport Lisboa e Benfica visse reconhecida pelo Estado e até pela Igreja uma polémica tendência para o bestialismo. Só a leitura da página 19 teve o condão de me acalmar. Afinal a eleita de Luisão é uma compatriota de raça humana chamada Brenda Britto Mattar. Em comum com a famosa Miss Piggy, outra campeã dos circuitos de concursos de Miss Agro-Pecuária, só mesmo a farta cabeleira loura.
Não sei o que diga, não sei o que faça
Eu costumava devorar livros do género "tell all" acerca de pessoas ou instituições que me interessam, mesmo quando as memórias eram romanceadas – o sempre actual "Golpe de Estádio", de Marinho Neves, explicou-me a verdadeira razão do prolongado jejum do meu clube, e "Os Implicados", de Sarah Adamopoulos, ofereceu-me uma visão delirante do “Indy" muitos anos antes de nele trabalhar - ou filtradas pelo medo de amanhecer com a boca cheia de formigas ou pela extrema megalomania de quem assinava. Algo deve ter mudado dentro de mim. Ao longo das últimas semanas segui com interesse a cobertura noticiosa dos livros de Pedro Santana Lopes, José António Saraiva e Carolina Salgado. Mas não agredi o meu saldo bancário com a compra de qualquer um desses títulos. Será que os níveis de curiosidade mórbida diminuem ao longo da vida?
Monday, December 11, 2006
Há que saber bater em retirada
A única divisão da minha casa onde a Internet funciona é o escritório. Isto poderia ser muito apropriado não fora o facto de a supracitada assoalhada ser a mais fria de todas. Tendo em conta as baixas temperaturas de hoje, reconheço a minha derrota e retiro-me para o quarto. Não por a falta de ligação ao ciberespaço me tornar mais produtivo – o que não deixa de ser verdade –, mas por ter presente o que o General Inverno fez às tropas de Napoleão e de Hitler. Não desejo ser a próxima vítima.
Quando não se grama o telegrama
Nunca antes tinha recebido um telegrama. E ainda bem. Pode ser só da minha cabeça, mas associo os telegramas a más notícias. E era de facto nefasta a notícia que me aguardava na caixa do correio quando cheguei enregelado e com um saco do Minipreço nas mãos ao "hall" de entrada do prédio. Pelo menos ninguém morreu.
Pimp my blog!
Hesito em migrar para a nova versão do Blogger. Aquilo parece tudo muito bonito e funcional mas encontro-me na mesma posição dos miúdos da MTV que recorrem a "rappers" famosos para lhes remodelaram as carripanas. Terei eu conhecimentos técnicos e imaginação suficientes para criar algo que faça valer a pena o abandono deste deslavado mas aceitável "template"?
Lá se vai a fleuma britânica...
A forma como José Mourinho comemorou o golo do empate no Chelsea-Arsenal, aparentando querer testar a paciência do rival Arsene Wenger, terá qualquer outra explicação além de uma necessidade patológica de antagonizar?
Exercício para memória futura
E que tal guardar na gaveta todas as declarações proferidas por altos responsáveis portugueses e estrangeiros a propósito da morte de Pinochet para compará-las com as que debitarão aquando do falecimento do tal outro ditador?
Um cidadão do mundo pula e avança
Considerado "desaparecido" pelo cronista Eduardo Prado Coelho nas páginas do "Público" que em 1989 ajudou a criar, o crítico Augusto M. Seabra "ressuscitou" no suplemento de sexta-feira do "Diário de Notícias". Prova-se mais uma vez que há vida após o "melhor jornal".
O general saiu do seu labirinto
Morreu no domingo um dos dois ditadores mais emblemáticos da América Latina. Não foi propriamente uma notícia inesperada, na medida em que, tal como o outro, Augusto Pinochet apresentava um estado de saúde nos antípodas da força patente nas fotografias a preto-e-branco que constituem a sua iconografia (aquela em que está sentado, com os braços cruzados e de óculos escuros vai além do que o melhor director artístico de Hollywood seria capaz de conceber). Um dia, como acontece a todos os homens, a morte chegou para o chileno. Um homem que, tal como o outro, derrubou um regime que considerava lesivo para os interesses da sua pátria - embora Fulgêncio Baptista fosse um déspota puro e duro e Allende tivesse merecido os votos vanguardistas de 36,2 por cento dos compatriotas em eleições presidenciais para as quais não estava prevista segunda volta, alienando de seguida o apoio dos ex-aliados democrata-cristãos devido às suas políticas sociais e económicas –, dedicando-se de seguida a eliminar com especial maldade os seus adversários políticos. Apesar do seu papel na contenção do tipo de regime político que tende a nunca mais abandonar o poder assim que o conquista e do relativo sucesso das políticas económicas que apadrinhou, não resta a menor dúvida de que no domingo morreu um homem mau, capaz dos maiores atropelos à liberdade e mentor de vergonhosos e sistemáticos assassinatos, torturas, abusos e humilhações para muitos milhares de pessoas. Morreu no domingo um dos dois ditadores mais emblemáticos da América Latina. Curiosamente aquele de entre os dois que percebeu a mudança dos ventos e aceitou renunciar ao poder em troca de garantias, alvo de erosão nos últimos anos, de que não iria pagar pelos seus actos na Terra.
Confissão de um viciado em período de abstinência
Terminei o último episódio da primeira temporada do “Lost” e começo a aceitar o facto de que as editoras videográficas não se lembraram de empacotar os episódios seguintes (muito embora já tenham passado na RTP) para aproveitar a fúria consumista do Natal. Resta-me tentar a metadona.
Thursday, December 07, 2006
Chamem-me discípulo de Pavlov a ver se me importo...
Perante as mortiças audiências ao longo desta cinzenta quinta-feira resta-me o recurso a uma solução científica. Muito embora me esteja borrifando para a sua deriva sáfica e mesmo para a amnésia no que às “panties” diz respeito, suponho que dará jeito escrever aqui o nome da canconetista "white trash" Britney Spears. Se ela é a mais procurada no Google também é possível que desvie algum tráfego para este combalido psitacídeo blogosférico.
Os anos não perdoam
Estive quase a tornar-me o cliente do mês da TV Cabo. Preparava-me para pagar a conta do mês passado num terminal de multibanco quando reparei que tinha o comprovativo de o ter feito na véspera. A moral a retirar da história é que fazer directas depois de ultrapassar a idade de Cristo implica riscos acrescidos.
Crónica do descalabro sportinguista
O Sporting quase me levou às lágrimas na noite de terça-feira.
Não pela derrota. Depois da exibição de sexta-feira (e das vitórias tangenciais na Madeira e na Figueira da Foz) exorcizei quaisquer ilusões quanto às possibilidades de o actual plantel superar-se quando é mais necessário. Por isso mesmo até encarei com naturalidade que a minha equipa já estivesse a perder por dois a zero quando atrasado cheguei à casa materna. Mesmo assim sentei-me frente à pequena televisão e até senti uma vaga faísca de esperança quando o improvável Bueno reduziu a desvantagem. Mas a primeira parte acabou e depois do intervalo não demorou muito para perceber que o número de jogadores do meu clube em campo era inferior à soma das parcelas. Não tendo poderes sobre-humanos para alterar a tragicomédia em curso desviei a minha atenção para o jantar, aqui e ali interrompido por telefonemas solidários da minha engripada "better half" e mensagens escritas oriundas da Serra Leoa - onde um sportinguista desiludido não tinha melhor opção do que ir seguindo o Chelsea-Levski num canal de desporto sul-africano -, convencendo-me sem resistência de maior a ficar conformado com o ingrato desfecho.
O meu plano corria às mil maravilhas. A sopa e o empadão estavam bons e nem as constantes invasões da mesa por parte da pequena gata (arraçada de pantera negra) Muana conseguiam tirar-me do sério. Mas a certo momento reparei numa coisa assaz estranha: a minha benfiquista progenitora estava a torcer pelo Sporting, ficando cada vez mais enervada (o que não é propriamente muito bom para quem tem um historial de problemas cardíacos) enquanto lamentava a falta de sorte no cabeceamento de Liedson que foi à trave ou questionava o défice de rapidez de execução dos médios. Perante tamanha demonstração de amor de mãe vi-me forçado a voltar a interessar-me pelo que acontecia no relvado do Alvalade XXI e houve um momento em que dei por mim a ficar emocionado.
(mas não cheguei a chorar, até porque, tal como Moscovo, a minha mãe não acredita muito em lágrimas)
O que vale é que os russos marcaram o terceiro e a partir daí foi só contar os minutos até ao fim.
Não pela derrota. Depois da exibição de sexta-feira (e das vitórias tangenciais na Madeira e na Figueira da Foz) exorcizei quaisquer ilusões quanto às possibilidades de o actual plantel superar-se quando é mais necessário. Por isso mesmo até encarei com naturalidade que a minha equipa já estivesse a perder por dois a zero quando atrasado cheguei à casa materna. Mesmo assim sentei-me frente à pequena televisão e até senti uma vaga faísca de esperança quando o improvável Bueno reduziu a desvantagem. Mas a primeira parte acabou e depois do intervalo não demorou muito para perceber que o número de jogadores do meu clube em campo era inferior à soma das parcelas. Não tendo poderes sobre-humanos para alterar a tragicomédia em curso desviei a minha atenção para o jantar, aqui e ali interrompido por telefonemas solidários da minha engripada "better half" e mensagens escritas oriundas da Serra Leoa - onde um sportinguista desiludido não tinha melhor opção do que ir seguindo o Chelsea-Levski num canal de desporto sul-africano -, convencendo-me sem resistência de maior a ficar conformado com o ingrato desfecho.
O meu plano corria às mil maravilhas. A sopa e o empadão estavam bons e nem as constantes invasões da mesa por parte da pequena gata (arraçada de pantera negra) Muana conseguiam tirar-me do sério. Mas a certo momento reparei numa coisa assaz estranha: a minha benfiquista progenitora estava a torcer pelo Sporting, ficando cada vez mais enervada (o que não é propriamente muito bom para quem tem um historial de problemas cardíacos) enquanto lamentava a falta de sorte no cabeceamento de Liedson que foi à trave ou questionava o défice de rapidez de execução dos médios. Perante tamanha demonstração de amor de mãe vi-me forçado a voltar a interessar-me pelo que acontecia no relvado do Alvalade XXI e houve um momento em que dei por mim a ficar emocionado.
(mas não cheguei a chorar, até porque, tal como Moscovo, a minha mãe não acredita muito em lágrimas)
O que vale é que os russos marcaram o terceiro e a partir daí foi só contar os minutos até ao fim.
Futebol português de regresso à normalidade (II)
Três vivas para os regeneradores do futebol português! Um jogo de suspensão para Nuno Gomes? Olarila! O mesmo castigo que costuma ser reservado para quem recebe dois cartões amarelos num mesmo jogo para um futebolista que, estando a vencer por dois a zero a poucos minutos do apito final, resolveu agredir brutalmente um colega de profissão? A única explicação benigna para a leveza da Comissão Disciplinar da Liga de Clubes terá de ser uma extrema benevolência tendo em conta a necessidade de afirmação de um homem que até trocou o seu nome de família pelo de um antigo avançado de prestígio (que, tal como Luís Filipe Vieira, é um sócio emérito do FC Porto). Lá tiveram as pernas do João Moutinho de pagar por isso. Mas foi por uma boa causa.
Futebol português de regresso à normalidade (I)
Irritações à parte, cumpriu-se a normalidade: o FC Porto tinha razoáveis oportunidades de continuar na Liga dos Campeões e continuou, o Benfica carecia de uma grande exibição e essa já a tinha feito dias antes em Alvalade, o Sporting tinha a oportunidade de demonstrar a sua tendência para falhar nos momentos decisivos e não desiludiu os detractores. Resta a compensação de que a cada vez mais provável redução da quantidade de equipas portuguesas na próxima temporada das competições europeias talvez resulte num acréscimo da qualidade média.
Mais uma sugestão para revolucionar o mercado jornalístico
Procurando sacudir o presente marasmo editorial o "Jornal de Notícias" lembrou-se de inventar uns óculos de três dimensões que têm o nobre propósito de "dar mais vida às imagens". Aguarda-se que a concorrência acorde (de preferência sem ficar à espera do beijo do príncipe encantado) e ofereça óculos que permitam aos leitores perceber os interesses das fontes por detrás da grande maioria das notícias.
Viagem ao fim da noite
O relógio avança sem remorsos, a cafeína toma conta do meu sistema nervoso e as notas dispersas acumulam-se por todos os cantos destes escassos metros quadrados de escritório. Só o ecrã é que não há maneira de deixar de estar em branco. Talvez uns minutos a fabricar "posts" sejam o aquecimento ideal para o que vem a seguir.
Tuesday, December 05, 2006
Por entre os pingos da chuva
Lembro-me da última vez em que senti medo do tempo. Tinha onze ou doze anos e estava no ginásio grande da Escola Preparatória Almirante Gago Coutinho – "melting pot" de meninos de Alvalade e amadurecidos pré-adolescentes dos bairros sociais circundantes onde pela primeira vez me apontaram uma arma branca à barriga – quando uma tremenda tempestade tomou conta dos céus de Lisboa. Não sei o que mais me assustou naquele final de tarde: os relâmpagos que aclaravam o espaço mal iluminado, os trovões que soavam a catástrofe iminente ou o incessante ruído da chuva a abater-se sobre a cobertura de material sintético "low cost". Recordo-me disto enquanto a chuva agride os estores e as janelas da minha silenciosa casa. Passaram mais de duas décadas e já não tenho medo do tempo. Pelo menos no sentido meteorológico do termo.
Este sim, é um verdadeiro Salazar
Quem são os futebolistas das 13 restantes equipas que poderiam ter um lugar nos planteis dos três grandes? Eis uma questão capaz de puxar pela imaginação dos fanáticos da bola durante horas a fio, impedindo-os de gastar o próximo subsídio de férias em "sites" de apostas ou de perder horas de trabalho em fóruns de discussão. Mas o pior é que a resposta tende a aproximar-se do zero. À primeira vista não há ninguém que cumpra os critérios exigíveis. Entre os que se aproximam - basicamente poderiam ser bons reservistas ou soluções para quando o apetite dos gigantes europeus subtrair o campeonato português das suas escassas estrelas - encontram-se o extremo leiriense Sougou, actual colega de equipa do central Marcos António, o guarda-redes nacionalista Diego Benaglio, o lateral-direito Patacas (fruto da escola de Alvalade precocemente desviado para a Madeira), o intermitente e por vezes apático Ricardo Sousa (mas quem consegue marcar seis ou mais golos por ano de livre directo merece indulgências) e os bracarenses Paulo Jorge, Andrés Madrid e Zé Carlos. Não é uma lista muito longa, admito. O que vale é que ainda falta a estrela da companhia: José Pedro Salazar, o meio-campista do Belenenses que, após uma meritória passagem pelo Vitória de Setúbal, vai fazendo tudo o que está ao seu alcance para salvar a honra do Restelo. À medida que os resumos mostram os seus remates de longa distância é possível que os "gestores de activos" do Sporting, Benfica e FC Porto um dia reparem no jogador a meio-caminho entre a juventude e a veterania que certamente não desmereceria todos os minutos na segunda parte que treinadores desesperados lhe concedessem. E eu até acho que ele ficaria muito bem de verde e branco (ou de amarelo e verde, ou lá o que é).
Os tempos estão a mudar
Toda a gente sabe que a nostalgia é uma coisa do passado. Mas ainda assim gosto de recordar que há muitos anos trabalhei num jornal cuja estrutura estava tão bem pensada que era quase impossível o leitor ser confrontado com uma enxurrada de "conneries" depois de entregar os seus prezados escudos ao dono do quiosque. Nessa altura seria impensável ler em letra grande que havia problemas na "concelhia de Algés" do PSD. Sosseguem os incansáveis habitantes de Santa Comba Dão: não voltaram a ser passados para trás e não houve qualquer redefinição do território nacional que tenha aumentado o número de concelhos. Algés permanece uma freguesia de Oeiras, pelo que o máximo que os social-democratas podem almejar é uma secção.
Monday, December 04, 2006
Regresso aos tempos do preto-e-branco
Aquilo de que melhor me recordo na noite de há 26 anos, entre o acto de jantar na casa dos meus avós maternos (5.ºEsq) e o de deitar-me na casa da minha mãe (2.ºDto), não é a reportagem da RTP que mostrou aos portugueses o que restava de um pequeno avião e (sem desprimor para as restantes vítimas) de dois grandes homens. Aquilo de que melhor me recordo é de pensar, com o terror próprio de uma criança que tinha o avô paterno entre os dirigentes dos partidos da Aliança Democrática, que sendo possível matar o primeiro-ministro então era possível matar seja lá quem for.
Como as palavras conseguem alterar-se devido às circunstâncias
Antigamente soava-me a desconhecido e mesmo um espírto pouco aventureiro como aquele que me habita conseguia imaginar-se na demanda de um lugar com nome tão mágico. Mas hoje leio a palavra Patagónia nos jornais e aquelas cinco sílabas aparentam ser um palavrão cabeludo ou um dos territórios irremediavelmente perdidos para as trevas na saga de Tolkien.
Sugestão de negócio para os empresários do teleshopping
Tendo em conta a crescente popularidade dos restaurantes de comida japonesa e os possíveis efeitos negativos para as suas vendas das notícias sobre a forma como morreu o espião russo Alexander Litvinenko, que tal começar a vender pequenos contadores Geiger que permitam sossegar os apreciadores de sushi e de sashimi que não pretendem sofrer uma morte lenta devido à ingestão de polónio?
Freakanomics aplicado ao futebol à beira-mar plantado
O árbitro Jorge Sousa salvou o futebol português ao não soprar o apito quando o cronómetro marcava 18 minutos no Sporting-Benfica de sexta-feira. E, no entanto, é verdade que Simão Sabrosa ceifou Miguel Garcia na grande área do Benfica, pelo que ficou por assinalar um penálti que teria muito razoáveis hipóteses de resultar no golo do empate para a equipa da casa. Imagine-se ainda pior cenário: o empate servia de estímulo para os onze futebolistas equipados de verde e branco e - no lugar da exibição amorfa que me convenceu a não depauperar o orçamento de Dezembro com a compra de bilhete para o sexto jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões - logo a seguir ocorria a reviravolta no marcador... Qual seria o resultado de o Sport Lisboa e Benfica* ficar a dez pontos do segundo classificado e a doze do líder quando o campeonato nem sequer vai a meio? É fácil de explicar: suceder-se-iam bancadas vazias. No só no Estádio da Luz mas também em todos os estádios por onde o plantel que Veiga amassou teria de passar até às faixas serem entregues a Vítor Baía e aos restantes dragões (versão provável) ou a Custódio, Ricardo e João Moutinho (versão carregada de "wishful thinking"). Graças ao árbitro Jorge Sousa este pesadelo para as contas dos participantes na Bwin Liga foi afastado.
*dotado, segundo os mais optimistas, de uma falange de apoio de seis milhões de portugueses, embora sucessivas sondagens indiquem que o número verdadeiro fica pelos quatro milhões, tendo Sporting e FC Porto cerca de dois milhões de seguidores e havendo muito boa gente (e, além desses, o ministro Mariano Gago) que torce por outros clubes ou está a marimbar-se para mais este ópio do povo.
*dotado, segundo os mais optimistas, de uma falange de apoio de seis milhões de portugueses, embora sucessivas sondagens indiquem que o número verdadeiro fica pelos quatro milhões, tendo Sporting e FC Porto cerca de dois milhões de seguidores e havendo muito boa gente (e, além desses, o ministro Mariano Gago) que torce por outros clubes ou está a marimbar-se para mais este ópio do povo.