Wednesday, January 31, 2007

Mais tarde ou mais cedo a sua "interrupção"


O melhor argumento a favor do voto no "sim" a 11 de Fevereiro é a relativa inutilidade de votar no "não". Em Portugal e noutros países europeus o referendo é entendido como o tipo de votação que é realizada quantas vezes forem necessárias até que o eleitorado consiga acertar no resultado correcto.

Finalmente sei a quantas ando

Demorou quase um ano, mas está feito: este blogue deixou de estar no fuso horário de Los Angeles e passou para o de Lisboa. Após perigos e guerras esforçados, mais do que permitia a força humana, o "template" foi reajustado.

E estas notas nem foram falsificadas

Agora é que me sinto de regresso aos tempos da faculdade: estava a meio de uma aula do curso de Gestão de Empresas generosamente ofertado pelo ministro Vieira da Silva quando a incansável Filipa, responsável dentro do Instituto de Formação Bancária pelo grupo de ex-desocupados forçados a madrugar no qual me incluo, apareceu com uma carrada de envelopes fechados nas mãos. No seu interior repousavam as notas de cada um dos módulos do curso em que os testes já foram corrigidos. Esperei pacientemente pela minha vez e o irremediável competitivo que existe dentro de mim não ficou desagradado com as oito avaliações: além de dois obrigatórios "muito bom" nos módulos de Word e Powerpoint, só desmereci os meus pergaminhos em Contabilidade Geral, não indo além de 62 por cento devido a uma infeliz confusão entre os critérios de saídas de armazém LIFO e FIFO. Passei como uma brisa pelos módulos cujos testes envolviam, nas iluminadas palavras de uma colega de curso, "o blá-blá que deve ser bom para o nosso amigo jornalista" e tirei impressionantes 98 por cento a Direito do Trabalho. A única coisa que me custa - até porque já fui mais novo para encarar uma mudança radical de carreira - é viver com o conhecimento de que cheguei aos 100 por cento em Contabilidade Analítica e Gestão Orçamental*. Suponho que devo inciar um período de reflexão antes de decidir se quero passar o resto da vida a usar "pullovers" de losangos e um lápis atrás da orelha.

*querem melhor acrónimo do que este?

Interlúdio de despudorada autopromoção


Faço minhas as palavras de Borat: Please, go buy this magazine. If it not success, I will be execute.

Pena da capital


Desconfio que se os corvos fizessem a mais ínfima ideia do que iria acontecer na Câmara Municipal de Lisboa teriam optado por desviar o rumo da nau que transportou os restos mortais do mártir S. Vicente. Nem que fosse para o Barreiro.

Manual de ralações internacionais

Primeiro tivemos um Presidente da República ligeiramente de esquerda mas eleito pela direita a visitar a maior democracia do mundo. Agora temos um primeiro-ministro ligeiramente de direita mas eleito pela esquerda a visitar a maior ditadura do mundo. Teme-se o que possa acontecer no terceiro acto da peça.

Tuesday, January 30, 2007

A Floresta de Sherwood não tem culpa nenhuma


Melhores personagens secundárias da cobertura noticiosa do referendo que se avizinha? As abnegadas desmanchadeiras profissionais que não se cansam de repetir a cada jornalista o quanto apreciam ajudar "desgraçadas" e o "quase nada" cobrado às mulheres sem condições para desembolsar os 400, 500 ou 600 euros exigidos por uma intervenção que dura poucos minutos e culmina com o arremesso para a sanita de "uma coisa de nada". Dir-se-ia até que estas nobres profissionais são as Robin Hood dos tempos modernos: cobram abortos às ricas para os oferecer às pobres.

Sai um "link" para a lista do lado

Por muito conservador, reaccionário, neoliberal e securitário que seja, acredito ter uma qualidade que falta a muitos: o gosto de esgrimir argumentos com quem vê o mundo de forma muito diversa sem que por isso advogue o meu envio, no fundo do vagão de carga e sem bilhete de volta, para o primeiro paredão que estiver desocupado. Dito isto, e sem mais delongas, o Papagaio Morto tem o orgulho de acolher no seu "template" o blogue Zona Fantasma (zonafantasma.blogs.no.sapo.pt), criação de Jorge Mateus e do meu homónimo (no que a iniciais diz respeito) Luis Rainha, o qual há muito tempo reparte com o Filipe Moura o título oficioso de bloguista-canhoto-de-estimação.

Mas pelo menos ainda não há sinal de gafanhotos

Julgava eu que 2007 correria melhor... Estava profundamente enganado: algures no meu prédio há quem esteja a aprender a tocar clarinete e dedique horas, fôlego e os meus ouvidos a repetir escalas de notas numa orgia minimalista.

Sunday, January 28, 2007

Agora imaginem paquistaneses a vender pacotes de farinha aos casais de namorados


Podia dizer que gostei muito de "Stranger than Fiction" pelo demencial argumento de Zach Helm, pela fabulosa romancista neurótica interpretada por Emma Thompson, pela forma brilhante como o multifacetado Marc Forster traduz em imagens o universo obsessivo-compulsivo da personagem principal Harold Crick – encarnado por Will Ferrell com uma férrea vontade de superar as suas óbvias limitações na arte de representar que não fica longe de lhe permitir alcançar a perfeição – ou pela alegria de observar que o brilhante "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" conseguiu finalmente garantir descendência (quase) à altura. Mas na realidade gosto sobretudo de "Stranger than Fiction" graças a uma linha de diálogo que me deu vontade de rir à gargalhada e de verter lágrimas ao mesmo tempo. Acontece quando Harold se aproxima da pasteleira Ana Pascal (Maggie Gyllenhaal), alvo dos seus afectos desde que lhe começou a auditar as declarações de impostos - horas depois de ouvir a voz de uma narradora anunciar que irá morrer dentro de pouco dias –, e lhe diz apenas e simplesmente isto:

- I brought you flours.

O jogo de sons em língua inglesa - lembrem-se: a personagem de Gyllenhaal trabalha numa pastelaria... - demorou meio segundo a descodificar-se no meu cérebro. Quando percebi a romântica (de uma forma "sui generis") frase fiquei absolutamente conquistado por "Stranger than Fiction". Há algum tempo que não me acontecia algo tão belo numa sala de cinema. Espero que vos aconteça também.

Depois dos camisas negras, eis que chegam os camisas lilases!

Tal como muito boa gente (e como muito má gente também), tendo a ver o "24 Horas" como o expoente do jornalismo desmiolado em que uma crise internacional de consequências imprevisíveis é relegada para segundo plano caso haja o mais ténue sinal da entrada de um novo homem na vida de Elsa Raposo. Pois acontece que nem sempre tenho razão. Uma das (não tão raras quanto isso) excepções à regra verificou-se na edição de hoje, onde na página 13 aprendemos a verdadeira razão que levou o vereador José Sá Fernandes a dispensar a protecção de agentes da Polícia Municipal colocada à sua disposição por Carmona Rodrigues. Sucede que o emérito embargador de túneis privilegia a companhia de dois corpulentos cidadãos que o sempre atento matutino dirigido por Pedro Tadeu descobriu serem... funcionários do Bloco de Esquerda. Regalemo-nos com a explicação de Pedro Soares, chefe de gabinete de Sá Fernandes: "Não são seguranças profissionais e nem andam armados, mas têm uma boa compleição física." Fica o aviso às pessoas que, como o autor deste blogue, têm o hábito de satirizar os dirigentes e as propostas políticas da formação política mais à esquerda da realidade no espectro político português: se calhar é melhor pensarem duas vezes, não vão cair no radar de cavalheiros que aliam o culto da alterglobalização à capacidade de impor respeito mesmo de mãos vazias. O que só me leva a desconfiar que sei o partido em que Rolão Preto militaria caso pudesse ressuscitar...

Adeus a um homem bom

Por mais voltas que dê à cabeça não sou capaz de me recordar da última ocasião em que falei com o Luís Ribeiro. Suspeito que terá sido numa das milhentas conferências de imprensa do universo Portugal Telecom a que me desloquei enquanto jornalista, muito embora também o possa ter encontrado casualmente na estreia de um filme ou de uma peça de teatro. Pelo contrário, lembro-me muito bem das circunstâncias em que o conheci: ele era administrador da empresa Público - Comunicação Social SA, ovelha negra da Sonae no que aos relatórios e contas dizia respeito; eu tivera a falta de bom-senso suficiente para integrar a lista única para a comissão de trabalhadores de um diário com graves problemas e que vivia na ressaca da saída dos seus pais fundadores, Vicente Jorge Silva e Jorge Wemans. Durante longos meses mantivemos negociações que só não eram mais complicadas devido às qualidades humanas do gestor que tínhamos pela frente. Imagino, aliás, que o Luís deveria parecer perigosamente heterodoxo aos olhos do engenheiro Belmiro de Azevedo e a verdade é que, mesmo depois de liderar numa fase inicial o projecto da Optimus, acabaria por demandar outras planícies. Segui de longe a fase seguinte da sua valorosa carreira e, apesar de um punhado de anos sem qualquer contacto, fiquei com o coração pesado ao ler no sábado a notícia da sua morte. Foi-se embora demasiado cedo, mas foi um homem com a oitava letra do alfabeto em maiúscula até ao fim. A sua última vontade de que o dinheiro que poderia ser gasto em coroas de flores em sua homenagem fosse convertido em donativos para as crianças internadas no Instituto Português de Oncologia foi a derradeira prova disso.

Depois disto fiquei com a absoluta certeza de que o raio do concurso está ganho

Depois de uma agradável sessão de cinema voltámos para casa e preparámos o jantar. Mais ou menos a meio de tão trabalhosa empresa ouvi a minha irrecuperavelmente esquerdista "better half" soltar, num tom de voz determinado, um desabafo que me arrepiou a pele:

- Faz cá falta um salazar!

Encarei-a com o desconforto da cara mal-virada e percebi que ela estava a fazer o possível e o impossível por retirar da embalagem a massa pré-fabricada de um bolo com sabor a laranja que minutos mais tarde me encarreguei de incinerar. Não foi desta que ela se juntou à multidão de taxistas, descontentes com este e outros governos e entusiastas de processos de teledemocracia.

O Papagaio Morto nunca tem dúvidas e raramente se engana

Tal como previ atempadamente neste blogue, voltou a cair neve em Lisboa. Desta vez encontrava-me a dormir aquando do previsível acontecimento - quem manda agendarem tentativas de nevão para as onze da manhã de um domingo? - e não posso jurar que tenha de facto acontecido seja lá o que for. Mas vi na televisão que nos arrebaldes houve mesmo flocos a cair do céu. Fica mais uma vez provado que até o incumprimento do Protocolo de Quioto tem um lado positivo.

Friday, January 26, 2007

Abaixo de Snoopy


Lidei de perto com João Cravinho quando era jornalista do "Público" e ele respondia pela alcunha de "superministro" de António Guterres, enquanto titular da pasta do Equipamento, Planeamento e Administração do Território. Desses anos guardo a memória de um homem capaz, recto e com amor ao seu país. Enquanto a maioria dos seus colegas seguiam a lógica do processo de diálogo em curso, Cravinho tentava fazer algo, nomeadamente a reforma de diversos sectores e mega-empresas ou a tentativa de transformar Portugal numa plataforma giratória cujas infra-estruturas lhe permitissem servir de ponto de comunicação de pessoas e mercadorias entre três continentes. Nem sempre acertou, mas esse é o ónus que recai sobre as pessoas que agem. Por tudo isto, e ainda pelo respeito que os seus cabelos brancos merecem, fiquei estupefacto ao ler notícias que reproduzem afirmações do primeiro-ministro José Sócrates acerca do pacote anticorrupção que o ainda deputado socialista preparou antes de rumar ao "exílio londrino" na administração do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento. Tudo é discutível em democracia, mas a simples noção de decência deveria ter feito com que o engenheiro Pinto de Sousa se privasse de fazer a curta viagem do Palácio de São Bento até ao edifício Heron Castilho ouvindo no autorádio da viatura oficial registos magnéticos em que a sua voz adjectiva de "asneiras" as propostas de um companheiro de partido. Mas suponho que isso seria pedir demasiado.

Thursday, January 25, 2007

Momento de parvoíce: o blogue anda demasiado sério para o meu gosto


Pode ser que a minha lendária dureza de ouvido me esteja a induzir em erro mas parece que corre o boato de que a Penélope Cruz e a Salma Hayek são fofas. E o mais estranho é que as duas ainda ficaram ofendidas com o simpático elogio.

Acreditem: não estou a inventar isto

Clara Pinto Correia ocupa hoje a sua coluna no "24 Horas" a vociferar um agente da autoridade que, entre outras demonstrações de brutalidade policial, a impediu de estacionar o automóvel em lugares reservados a deficientes.

Chamemos as coisas pelos nomes

Sosseguem os meus amigos e leitores afectos ao campo "pro-choice": votarei no "sim" quando for agendado um referendo para reconhecer o direito à eutanasia. Mas espero que no boletim de voto apareça mesmo a palavra eutanasia e não um eufemismo pífio como interrupção voluntária da respiração.

Pardon my quimbundo...

Posso muito bem com os republicanos, socialistas e laicos. O pior é o crescente número de republicanos, socialistas e malaicos.

O mistério de Guadalupe

Paz à alma de Guadalupe Larriva, a ministra da Defesa do Equador que morreu na sequência de uma colisão de helicópteros. Tudo indica que se tratou de um acidente mas não deixa de ser curiosa a propensão que os civis titulares dessa espinhosa pasta com agendas políticas polémicas - neste caso tratava-se da não renovação do acordo de cedência de uma base área aos Estados Unidos, o que decerto motivará uma deslocação da eurodeputada Ana Gomes ao local do acidente - têm para sofrer acidentes quando entram em engenhos voadores.

Cheira mal, cheira a Câmara de Lisboa

Repito mil vezes a mesma frase para me convencer de que não tenho obrigação moral de pintar a cara de vermelho para tornar pública a minha vergonha: apesar de tudo, o meu voto nas autárquicas ajudou a impedir que Lisboa menina e moça ficasse nas mãos do "philosophus rex". Mas a lógica do mal menor constitui sempre escassa compensação...

Uma bela forma de dar início ao dia

Acordei, testemunhei as venenosas declarações do ministro Luís Amado e dei por mim a pensar que se calhar descobri o misterioso leitor do Ministério da Defesa que o Sitemeter fez o favor de identificar.

Wednesday, January 24, 2007

Alarmante diário de um quiosque

Uma ligeira alteração nas minhas rotinas matinais levou a que nas últimas manhãs tenha tomado conta de uma bizarra realidade: o quiosque na esquina da Avenida da República com a Avenida de Berna tem a maioria dos diários esgotados antes das nove da manhã. Trata-se, à partida, de uma política comercial assaz questionável mas uma rápida observação da conjuntura permitiu-me entender os motivos. Sucede que a menos de uma dezena de metros encontra-se um grupo de jovens que diligentemente distribuem um diário gratuito às multidões que saem da estação de metropolitano do Campo Pequeno. Poucos são os que olham o dente ao cavalo dado e ainda menos entendem haver necessidade de dar dinheiro pelo que podem ter de graça. Descobrir como se convence os leitores de que devem pagar por jornais com maior qualidade é o desafio que se coloca aos profissionais da imprensa tradicional portuguesa.

A homenagem devida

No decorrer das minhas aventuras no jornalismo português cruzei-me com um assinalável (mesmo que pouco extenso) conjunto de crápulas. Felizmente também encontrei gente a quem tiraria o chapéu caso tivesse o hábito de o usar. Como ando de cabeça descoberta tenho de manifestar respeito por essas pessoas de outra forma. Aqui vai: Luís Filipe é um homem bom e um grande talento do jornalismo (não escrevo do jornalismo desportivo por ter a certeza de que ele seria igualmente bom nas áreas em que não escolheu trabalhar) ao lado do qual tive o grato prazer de trabalhar no "Independente". Um dia respondeu ao desafio de fundar uma revista desportiva semanal que fosse além do caudal de informação disponibilizado por três diários, várias rádios e algumas televisões. A revista chamava-se "Doze" e durou enquanto conseguiu durar. Primeiro enquanto projecto independente e depois inserida num fortíssimo grupo editorial pouco empenhado em viabilizá-la. O Luís empenhou corpo e alma numa luta em que foi com idêntico brio soldado, comandante e adjunto de comandante. Depois do último número os seus amigos não puderam deixar de ver como sofreu com a injustiça de um mercado de emprego que o olhou de soslaio. Mas ele não perdera qualquer uma das suas muitas qualidades. Provou-o ao lançar o "site" Sportugal, capaz de marcar pontos num sector altamente concorrencial. Está agora a atravessar um mau bocado, acusado que está do mais estúpido "crime" de que um jornalista pode ser acusado. Como o Luís está proibido de contactar os média envio-lhe deste modo o meu abraço e o meu apoio. E aos leitores do Papagaio Morto peço que criem o hábito de passar os olhos pelo trabalho que ele e a sua equipa fazem quando não estão ocupados a receber visitas da Polícia Judiciária.

As pessoas têm de saber a verdade

Imaginemos que Fidel Castro morre no mesmo dia em que Hillary Clinton é eleita presidente dos Estados Unidos. Ana Gomes abre a garrafa de champanhe ou deixa-a ficar no frigorífico?

Notícias inquietantes "in the wee small hours of the morning"

Diz que a China testou um míssil capaz de destruir satélites. Estou a contar os segundos até a direcção partidária do CDS encomendar uma ou duas unidades do revolucionário produto para lidar depressa e em força com o grupo parlamentar do PP.

Com esta é que me arrumaram!

Da próxima vez que exasperar com hesitações nas saídas aos cruzamentos e golpes de vista feridos por excessivo optimismo devo repetir cem vezes que o guarda-redes da minha equipa foi considerado o sétimo melhor do mundo pela IFFHS*. E quando aprender a marcar livres directos até ultrapassa o Rogério Ceni.

*Resta saber se é avisado prestar demasiada atenção a um "ranking" liderado por um guarda-redes que exerce o seu ofício na segunda divisão, Gianluigi Buffon de sua graça.

Verde é a cor da esperança

Será Fábio Coentrão quem irá dar tempero ao ataque do Sporting?

Tuesday, January 23, 2007

Quarta reacção à lista de nomeados para os Óscares

Dito isto, nem tudo é mau: Helen Mirren tem a passadeira vermelha para o Óscar de Melhor Actriz, a muito bem referenciada interpretação de um professor liceal toxicodependente em "Half Nelson" valeu a Ryan Gosling uma insólita nomeação para o Óscar de Melhor Actor (será o mais calmo nos instantes após a abertura do envelope, contrastando com Forest Whitaker, Leonardo DiCaprio, Will Smith e Peter O’Toole), Paul Greengrass viu recompensada a dedicação ao "United 93" com a nomeação para Melhor Realizador, Sacha Baron Cohen concorre ao Óscar de Melhor Argumento Adaptado por "Borat" e o pecaminosamente subavaliado "Children of Men" marca presença nas categorias de Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Montagem.

Terceira reacção à lista de nomeados para os Óscares


Recorro a todos os santinhos dos idólatras católicos - garanto devolvê-los em bom estado quando já não forem necessários - para implorar que a Academia não atribua o Óscar de Melhor Realizador ao eternamente esquecido Martin Scorsese. Quem já foi nomeado por obras-primas como "Raging Bull" e "Good Fellas" (e nem essa benesse mereceu aquando do intemporal "Taxi Driver") não pode receber a estatueta dourada por um inspirado (mas não iluminado) decalque do filme de um outro cineasta.

Segunda reacção à lista de nomeados para os Óscares

Primeiro as boas notícias:
"Dreamgirls" lidera no número de nomeações mas foi excluído das categorias de Melhor Filme e de Melhor Realizador. Além disso, duas das suas oito hipóteses de vencer autoexcluem-se, visto que três composições originais para a tentativa de converter Beyoncé Knowles numa estrela transversal concorrem ao Óscar de Melhor Canção Original. Subsistem fortes probabilidades de sucesso para os secundários Eddie Murphy e Jennifer Hudson mas no final da madrugada de 25 para 26 de Fevereiro não haverá uma repetição do triunfo da atroz mediania de "Chicago".

Depois as notícias assim-assim:
A Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood seguiu a tendência dos restantes "colégios eleitorais" e preferiu "Letters from Iwo Jima" a "Flags of Our Fathers". O primeiro concorre a Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Original (Ken Watanabe foi o esquecido de serviço) enquanto o segundo queda-se pelas categorias de Melhor Montagem Sonora e Melhor Som (o que não é propriamente um feito para uma longa-metragem repleta de tiros e explosões). Pergunto-me se, bem lá no fundo da sua alma, o americano tranquilo Clint Eastwood concorda com a diferença de acolhimento às suas duas visões da dramática batalha.

E por último as más notícias:
Do lado das suas sete nomeações (duas delas assaz defensáveis, na categoria de Melhor Actor Secundária, para Adriana Barraza e para a rebelde sem causas e também sem cuecas Rinko Kikuchi), "Babel" arrisca-se a ser uma das obras mais indigentes a terminar a cerimónia de entrega dos Óscares com os prémios mais importantes. Com a agravante de Alejandro González Iñarritu também constar da lista de produtores, pelo que poderá distribuir diatribes políticas e deficiente domínio da língua inglesa por dois discursos.

Primeira reacção à lista de nomeados para os Óscares


Até a certa idade acreditamos no Pai Natal. Depois aprendemos que as coisas não são bem assim. A minha relação com os Óscares não é muito diferente.

Aproveitemos o melhor de cada mundo

Qual será a melhor solução para ultrapassar a extrema divisão entre os selvagens Estados Unidos e a civilizada Europa no que toca à aplicação da pena capital? A questão é complexa mas tenho uma sugestão passível de ser discutida ao mais alto nível*: se calhar é possível convencer as autoridades do Texas a introduzir a pena de prisão perpétua em cadeira eléctrica de baixa voltagem.

*estou mesmo disposto a abdicar dos meus direitos de autor

Teologia logo pela manhã

O facto de o homem mais arrogante e a mulher mais arrogante de Portugal formarem um casal não será a mais inquestionável prova da existência de Deus?

Monday, January 22, 2007

Ó Largo do Rato, volta para trás!

Confesso que já sinto saudades dos tempos em que o papel de "comic relief" do Partido Socialista estava entregue ao imparável Tino de Rans e ao inigualável sindicalista "Manuel Vinte e Cinco", efémero Rocco Siffredi do Palácio de São Bento. Faziam amiúde intervenções gloriosamente acéfalas mas não eram movidos nas suas acções pelo amargo ressentimento em relação ao país que mais contribuiu para derrotar os sistemas políticos alternativos à "democracia burguesa"...

Isto anda tudo ligado

Desde que comprei uma alegre casinha (tão modesta quanto eu) na Rua Augusto Gil já nevou uma vez em Lisboa. Quanto é que apostam que o vento frio que já nos chicoteia os ossos trará consigo uma nova contestação do previsível?

Um pensamento muito pouco reconfortante

Depois de ver a fabulosa coreografia interpretada pelo eurodeputado socialista Paulo Casaca na companhia dos Muhajedins do Povo é provável que Miguel Portas vá recrutar para o seu "staff" em Bruxelas um instrutor dos Alunos de Apolo. Só assim estará preparado para enfrentar qualquer "outburst" festivo dos dirigentes do Hezbollah na próxima visita ao Líbano.

In Mirren we trust


Depois da tremenda desilusão chamada "Babel" tive a confirmação do que já calculava: ainda que desprovido de ambições "cinematográficas", "The Queen" foi uma lufada de ar fresco na minha tarde de sexta-feira. Há que agradecer ao realizador Stephen Frears (as duas cenas que envolvem o malfadado veado são filmadas com mestria e a omnipresente intriga palaciana faz lembrar o saudoso "Dangerous Liaisons") e ao precioso argumento de Peter Morgan - tão eficaz no registo de comédia (nomeadamente com a sucessão de idiossincrasias da família real britânica) quanto no de drama político (onde, ainda que sinuoso, Tony Blair apresenta uma decência surpreendente na sua relação com uma complicada figura materna) -, mas sobretudo à interpretação de Helen Mirren. A grande dama da representação britânica (categoria sub-65) transformou-se na Rainha Isabel e humanizou-a dentro da sua trágica incapacidade de compreender os humanos. Um grande feito num filme que, sem ser grandioso, é mil vezes melhor dos que o intentam e ficam longe de o conseguir. Parafraseando Camilo Castelo Branco: vales mais tu, minha rainha, do que quantas produções armadas ao pingarelho existem na cabeça de cineastas alterglobalizadores apoiados por estrelas de Hollywood.

Presunção e água cujo custo industrial será devidamente reflectido no preço final


Acredito que dentro de poucas horas tornar-me-ei a primeira pessoa na História da Humanidade a entrar num teste de Contabilidade Analítica com as siglas FIFO e LIFO escritas nos dedos de cada uma das mãos (os polegares ficam fora desta rebaldaria) tal qual o LOVE e o HATE da personagem de Robert Mitchum em "The Night of the Hunter".

Friday, January 19, 2007

Uma dúvida que não me atormenta tanto quanto isso

Tendo em conta as diferenças inconciliáveis com a direcção partidária estarão os 11 deputados "portistas" do CDS/PP dispostos a fazer opções inadiáveis?

A insustentável chateza de o ver


Num universo paralelo talvez fosse presidente de um estúdio de Hollywood. Nesse universo paralelo talvez já estivesse morto. Caso o meu estúdio fosse responsável por "Babel", a longa-metragem do mexicano Alejandro González Iñárritu que por razões dificilmente perceptíveis mereceu o prémio de Melhor Filme Dramático aquando da entrega dos Globos de Ouro, não seria de todo improvável que cortasse as veias no final do visionamento. Neste universo, onde apenas sou espectador e ocasionalmente crítico de filmes, limitei-me a preencher 142 minutos de batidas cardíacas - estaria capaz de jurar que a empreitada chegou às três horas, mas o sempre bem informado IMDB garante-me o contrário, o que só vem provar que o tempo passa mais devagar em certas ocasiões - com uma sucessão de ocorrências separadas em três núcleos narrativos colados com cuspo. À medida que as desgraças e "malaise" desfilavam perante os meus olhos, com Marrocos, México e Japão a servirem de cenário do mundo "globalizado", nunca logrei criar a mais ténue relação com as personagens que as sofriam. Perdoem-me os possíveis "spoilers" mas estava-me absolutamente borrifando para a sobrevivência da turista americana encarnada pela Cate Blanchett, para o possível suicídio da adolescente surda-muda japonesa (embora Rinko Kikuchi, em igualdade com a mexicana Adriana Barraza, ainda seja o melhor que este pretensioso filme tem para oferecer) ou mesmo para a eventualidade de duas crianças serem atacadas por animais selvagens no deserto junto à fronteira entre o México e os Estados Unidos. Só queria que aquilo acabasse de vez. E a certo momento acabou. Já nem me lembro muito bem como, mas o regresso da luz àquela sala já foi um "happy ending".

Uma microficção canalha para acabar a semana

Era uma vez um homem que vendeu a alma ao diabo na condição de passar a ter assegurada, a qualquer instante e onde quer que se encontrasse, rede "wireless" para o seu computador portátil.

O repórter sempre em cima do acontecimento

Passava pouco das cinco da tarde de quinta-feira quando entrei no Atrium Saldanha, demandando em passo apressado lanche ligeiro e uma cadeira onde pudesse repousar a coluna por alguns minutos antes de rumar a uma consulta. Uma dezena de passos após transpor a porta de vidro cruzei-me com uma mulher negra e menos de um segundo depois ouvi este fragmento de diálogo entre dois homens brancos que olhavam para ela:

- Só o cheiro da pele chega para me arrepiar!

Mantive o passo apressado e fiquei sem saber se o homem que proferiu a frase era um racista, um obcecado ou qualquer coisa de intermédio.

Mais um alerta do profeta da desgraça

Saberemos que o politicamente correcto triunfou por completo quando nos rescaldos de batalhas, acidentes ou catástrofes naturais as autoridades mencionarem que estes causaram um determinado número de não-vivos.

Tuesday, January 16, 2007

Para não dizer que não falei das flores

Aqui que ninguém nos ouve, talvez já seja hora de criar uma Ordem dos Jornalistas. Antes que seja demasiado tarde.

Uma prova fotográfica ao cuidado da eurodeputada Ana Gomes


Eis um grupo de indivíduos com ar circunspecto e mãos presas atrás das costas forçados a envergar os infames uniformes cor-de-laranja. Admito que as criancinhas não parecem naturais dos Açores mas não resta a menor dúvida de que há "coisas estranhas" a acontecer...

Reviver o passado em Palhavã

Fui ontem ao Instituto Português de Oncologia. Encontrei o meu convalescente pai no sexto andar de um edifício principal menos tenebroso pela arquitectura do que pelo a qualquer momento adivinhamos estar a acontecer no seu interior. Não entrava ali há mais de 20 anos. Foi então que a minha avó materna iniciou o calvário em que se converteriam os seus derradeiros anos. Estava de tal forma sugestionado que ao sair da tabacaria situada em frente à instituição conhecida pela abominável sigla constituída por três letras que não será aqui mencionada - pode parecer parvoíce mas quando escrevo o nome por extenso não sinto tanto o peso... - reconheci por instantes a Custódia de Jesus que não me viu crescer numa senhora sentada na esplanada do café ao lado. Depois de visitar o meu pai pensei em apanhar um dos táxis que aguardam os familiares e amigos dos que ali vão parar. Mas continuei a andar e só parei na plácida segurança da Avenida de Roma onde mesmo os mais idosos pareciam gozar de boa saúde. As vírgulas que me perdoem mas ao lembrar-me daquele sítio apetece-me acelerar. E por isso concedi-lhes folga neste "post".

Comunicação ao país de Sua Excelência, o criador do Papagaio Morto*

Declaro solenemente que estou farto de debates sobre o novo aeroporto de Lisboa. Em primeiro lugar por uma razão puramente egoista: durante sete anos de jornalismo económico terei enchido largas dezenas de páginas de jornal e revista com as últimas do pára-arranca de tão faraónico projecto. E em segundo por um motivo mais prosaico: cansei-me de ler referências ao "aeroporto da OTA". Qual OTA, qual carapuça! O raio da terra chama-se Ota. Garanto aos mais resistentes à mudança que naquelas coordenadas não se encontra a sede uma qualquer Organização do Tratado do Atlântico (a haver, suponho que seria uma espécie de NATO aberta aos países latino-americanos e africanos) que dê origem à sigla que ao longo destes anos milhares de vezes escreveram. Tenho dito!

*não é de todo improvável que este seja o "post" com maior número de pontos de exclamação desde a fundação deste blogue!

Sunday, January 14, 2007

A imbecilidade (agora em pontas)


Uma centena de energúmenos saíram à rua para manifestar o seu desagrado pelo facto de Simone Clarke, bailarina principal do English National Ballet, interpretar "Giselle" na noite de sexta-feira. Para os activistas da organização Unite Against Fascism, a bailarina cometeu um crise de lesa-majestade: admitiu que é militante do British National Party, formação de direita ultraconservadora cujo ideário inclui a recusa da imigração em massa para as ilhas britânicas. Os manifestantes nem se esqueceram de distribuir panfletos a lembrar a morte em Auschwitz de René Blum, fundador do Ballet de l’Opera de Montecarlo. Louva-se a capacidade de pesquisa histórica - muito embora não seja claro em que consiste a responsabilidade de Simone Clarke ou mesmo do British National Party nesse acto criminoso -, sendo evidente que tamanho zelo não ficará por aqui e os incansáveis membros da Unite Against Fascism protestarão com igual vigor contra os eventuais comunistas no English National Ballet quando obtiverem provas insofismáveis que também uns quantos bailarinos e coreógrafos enfrentaram ligeiras dificuldades na União Soviética e países-satélite ao longo de intermináveis décadas...

Contagem decrescente de reflexão (II)

"Correio da Manhã - Há quanto tempo faz abortos clandestinos?
Enfermeira C. - Há uns anos.
- Por que o faz?
- Não escondo que é por questões monetárias, mas não só: é uma ajuda que alguém tem de prestar. As pessoas precisam, é uma necessidade.
- Quanto leva por cada aborto?
- Entre 400 a 450 euros.
- Qual a percentagem de lucro?
- Sensivelmente metade, cerca de 200 euros. Gasta-se muito...
- Em quê?
- A anestesia é caríssima e não se vende nas farmácias. Vem de Espanha, adquire-se no mercado paralelo, ou seja, fica mais cara ainda. Anda na casa dos 50 euros. Depois há uma vacina, o Rogan, que tem de ser administrada no caso de a interrupção ser feita em sangue negativo. Se essa vacina não for tomada, os futuros filhos podem ter problemas. Essa vacina ronda, também, os 50 euros. Finalmente, os custos inerentes ao sítio onde se pratica.
- É fácil arranjar sítio?
- Nada fácil. Temos de comprar uma casa. Ninguém aluga uma casa para fazer abortos. Compramos uma casa e adaptamo-la. E temos de pagar a uma empregada, que não ganha o mesmo que uma empregada normal. Corre riscos, tem de ser paga acima da média.”

in “Ganho 200 euros por cada aborto que faço", entrevista de Paulo João Santos, publicada na edição de sábado do "Correio da Manhã"

Não muito breve comentário: A enfermeira C. gasta 50 euros na anestesia e outros 50 euros numa vacina que só tem de ser administrada em certos casos. Depois é sobrecarregada com os "custos inerentes". Ninguém lhe aluga uma casa para fazer abortos e é evidente que a primeira coisa que ela diz a cada potencial senhorio, ainda antes de apurar a renda, é que planeia utilizar as assoalhadas para exercer o tipo de "ajuda que alguém tem de prestar". Trata-se, certamente, da pessoa mais honesta de Portugal, sendo improvável que já tenha nascido a alma capaz de confessar que pretende alugar um imóvel durante cinco anos para nele instalar um "apartamento de massagens". Quanto mais uma linha de desmancho de gravidezes... Mas adiante. Tendo em conta a incompreensão alheia, a enfermeira C. vê-se forçada a comprar casa. Suponho que para os fins pretendidos não será necessário um apartamento com centena e meia de metros quadrados e imenso "cachet". Se calhar chega contrair um empréstimo de 150 mil euros para conseguir um local perfeitamente aceitável numa zona central e, no entanto, discreta, dotada de “uma sala, um quarto e um compartimento mais pequeno". Isto implica uma prestação mensal de 700 ou 800 euros num empréstimo a 30 anos. Sucede que a enfermeira C. admite fazer um aborto por dia, pelo que (contando apenas os dias úteis e tendo em conta que toda a gente precisa de descansar para melhor exercer o seu ofício) conseguirá 22x450 euros de receita mensal. Mas façamos as contas por baixo: 22x400 euros ainda chega a 8800 euros. Dessa maquia, considerando que todas as mulheres necessitariam da supracitada vacina, há que subtrair 22x100 euros, ou seja, 2200 euros. Ficam 6600 euros, mas há que pagar "acima da média" à empregada encarregue das limpezas. Quanto? Mil euros, o que já é mais do que a maioria dos licenciados ganham na primeira década de carreira, por deitar "uma pinguinha de sangue" para a sanita? Digamos que sim. Então a benfeitora fica com 5600 euros mensais por uma intervenção diária que a própria garante não demorar mais do que dez minutos de aspiração. Tendo em conta que já tem o aspirador, "made in China", há 15 anos, duvido que ainda o esteja a amortizar. Subtrai-se os tais 800 euros de prestação mensal e subsistem 4800 euros. Quer isto dizer que a enfermeira C. ganha mais ou menos o mesmo que o primeiro-ministro José Sócrates. Mas, ao contrário do que acontece com este último, gozará da infinita simpatia e compreensão de Francisco Louçã caso lhe suceda algum percalço.

Contagem decrescente de reflexão

"(...)Mas Ana, que já fez quatro abortos, acha o preço demasiado alto. Mais de 200 contos, em moeda antiga, ainda é dinheiro. Pega na agenda e lliga a Joana (nome fictício), a enfermeira que lhe fez o primeiro desmancho, hoje retirada da actividade. Foi um aborto indolor, ao contrário do terceiro, em que a morte chegou a passear-se pelo quarto.”

in "Os Preços do Aborto", reportagem de Paulo João Santos, publicada na edição de sábado do "Correio da Manhã".

Permitam-me um breve comentário ao caso de Ana (nome obviamente fictício), que já fez quatro abortos e encara diferentes soluções para levar a cabo um quinto. Sem almejar à omnisciência, parece-me inquestionável que o principal método de contracepção que utiliza é mesmo o aborto. Apesar do meu voto no referendo de 11 de Fevereiro, garanto não querer ver nenhuma mulher presa por encomendar a expulsão de um feto alojado no seu ventre. Isto em regra geral. Nos casos como o de Ana - e, tal como as bruxas, "que los hay, los hay" - não tenho assim tanta certeza.

História sem siso de Portugal

Desanimado pela prestação do Sporting, acabei por assistir ontem à noite a grande parte do programa da RTP “Os Grandes Portugueses". Ainda bem que o fiz: consegui finalmente identificar o jovem Hélio Pestana e até percebi que não é caso único - a ex-ministra Maria do Carmo Seabra também deve estar rodeada de familiares e amigos empenhados na democracia via SMS - enquanto alpinista da História de Portugal. Mas o que mais me agradou foi ouvir da boca de Maria Elisa (numa opinião parcialmente corroborada pelo historiador António Costa Pinto) que Otelo Saraiva de Carvalho é, "über alles", um dos responsáveis pela queda do Estado Novo. Depois parece que teve uns desvios aborrecidos, mas (como diria a grande Teresa Guilherme) isso agora não interessa nada. Tendo em conta este critério de "always look at the bright side of his life" não me espanta que Oliveira Salazar seja apresentado como o governante que logrou o milagre de equilibrar as contas públicas nacionais.

Friday, January 12, 2007

Falta de vergonha na cara


Quando era um moço pequenino, acabado de chegar à redacção do "Público", tinha um hábito perturbador e dificilmente confessável: escrevia o meu nome no boletim sempre que havia eleições para o Conselho de Redacção. Daí resultava que contabilizasse sempre pelo menos um voto, o que de uma forma absolutamente “delusional" talvez - digo talvez porque isto aconteceu há uns anos e as memórias quanto aos meus motivos são difusas - me trouxesse alguma alegria. Em boa verdade, nada de especialmente mau advinha do hábito. Bem mais grave foi o que aconteceu quando mais uma dúzia de pessoas seguiram o meu exemplo e acabei por ser eleito - ao lado de pessoas que realmente o mereciam, como a Ana Sá Lopes e o Pedro Caldeira Rodrigues - para um órgão que chocava excessivas vezes com o seu presidente por inerência, o já então director José Manuel Fernandes. O infortúnio voltou a bater-me à porta aquando da fundação da revista "Focus" - tanto quanto me lembro, nessa altura deixara de colocar o meu nome no boletim... -, tendo a brincadeira consequências ainda mais nefastas, pelo que foi com indisfarçada alegria que verifiquei a inexistência de Conselho de Redacção (os últimos eleitos acabaram por sair a mal do jornal) no defunto "Independente".
Vem isto a propósito do anúncio da lista dos 100 maiores portugueses. Sucede que um dos escolhidos pelo "voto telefónico-popular" é Hélio Pestana, actor de 21 anos que terá "dado vida" a uma personagem "betinha" da segunda temporada da telenovela acéfalo-juvenil "Morangos com Açúcar". Consultando a sucinta entrada que lhe foi dedicada na Wikipedia descubro que o Hélio fez uma das vozes da versão portuguesa da longa-metragem de animação “Cars", integrou o rol das 25 pessoas mais bonitas da televisão em 2005/2006 e empenha-se em concluir o curso de Arquitectura, conciliando-o com aulas de "hip hop" na Escola Dança Livre de Lisboa. Admito que não é o pior dos currículos, mas Mouzinho de Albuquerque (e como ele muitos outros) fez um nadinha mais e não conseguiu vislumbrar os calcanhares do Hélio. Arrisco-me a adivinhar que isso aconteceu porque ao bom do Mouzinho faltaram familiares e amigos empenhados em votar até que os dedos (e a carteira) lhes doessem. E deixo uma pergunta que muito gostaria de ver respondida: quanto dinheiro e tempo foi preciso gastar para ficar ao lado de Vasco da Gama, Fernando Pessoa e D. Afonso Henriques? E, sobretudo, como é possível não ficar coberto de vergonha perante o resultado do triste brincadeira.

P.S. - Mais grave do que isto só se o membro do elenco de "Morangos com Açúcar" a integrar a lista dos 100 maiores portugueses fosse o malogrado Francisco Adam, equiparado durante penosas semanas a uma espécie de James Dean lusitano pela triste coincidência de ter morrido mais ou menos da mesma forma que a efémera estrela de Hollywood.

Mitologia aplicada aos tempos modernos

O 13.º trabalho de Hércules? Munido de um telemóvel e de uma lista de restaurantes lisboetas, arranjar mesa para cinco pessoas às seis e meia da tarde de sexta-feira. E de preferência sem ser no McDonald’s

Wednesday, January 10, 2007

Falta um dia para o número bestial...

Ei-lo que parte


A renúncia ao mandato de vereador hoje anunciada por Manuel Maria Carrilho cria um problema bicudo para o PS-Lisboa. Alguém terá forçosamente de se chegar à frente mas não é qualquer um que consegue deixar uma cadeira vazia nas reuniões camarárias com a refinada "souplesse" do pai de Dinis Maria.

O melhor amigo de Jorge Nuno

Compreendo o ar de cândida felicidade de Pinto da Costa na fotografia em que foi surpreendido a brincar com o seu cão durante um treino do FC Porto. Tem a certeza de que o animal nunca virá a escrever um livro (está por nascer o "ghost writer" com tamanha capacidade de tradução) para descrever os pormenores mais escandalosos da relação com o dono e também é improvável que as escutas às suas conversas rumem às páginas dos jornais graças ao zelo das "fontes ligadas ao processo".

Uma polémica religiosa por dia dá saúde e alegria

O Papa Bento XVI recusou um convite para visitar o Santuário de Fátima mais para o final do ano. A explicação oficial passa por dificuldades de agenda mas eu não fiquei nada convencido: às tantas Ratzinger é protestante, tal como a maioria dos seus compatriotas, e não aprecia idolatrias...

Ele há gente incorrigível...

Todos os esforços do ministro Vieira da Silva para me transformar num "number cruncher" estão longe de resultar: mais depressa aplico o Princípio da Prudência enquanto peão, ao afastar-me das poças de água em manhãs de chuva, do que propriamente a exercer o profano ofício da Contabilidade.

Uma notícia que acabou de aterrar (com passageiros agrilhoados a bordo)

A eurodeputada Ana Gomes prepara-se para agendar uma conversa com três cavalheiros chamados Baltazar, Belchior e Gaspar. Parece que eles viram uma coisa estranha no ar e nunca se sabe até que ponto a CIA teve algo a ver com isso.

Tuesday, January 09, 2007

Eis o português que mais produz em 9,99 segundos


Boa parte dos mais destacados cidadãos dos Estados Unidos nasceram noutro país e mesmo noutro continente. Em Portugal é mais raro que tal aconteça, mas a regra tem uma brilhante excepção: parabéns ao nosso compatriota natural da Nigéria Francis Obikwelu, campeão europeu de 100 e 200 metros em Gotemburgo e com extrema justiça eleito o melhor atleta do Velho Continente em 2006.

Uma teoria da conspiração que me soa a grego

Facto 1: Pinto da Costa tem a alcunha de Papa, o qual é o líder da Igreja Católica
Facto 2: O ortodoxo benfiquista Katsouranis lesionou o católico portista Anderson
Facto 3: O FC Porto foi eliminado pelo Atlético no dia em que os ortodoxos celebram o Natal

Será que estamos perante o embrião de uma guerra religiosa e desta vez nem sequer é possível culpar os muçulmanos?

Os homens aos quais aconteceu não sei o bem o quê

Lembram-se de Ivo Damas e de Cláudio Oeiras? Tanto um como o outro gozaram uns dias de fama há um punhado de anos devido às suas prestações na Taça de Portugal. Não só fizeram figura e contribuíram de forma decisiva para o tomba-gigantes como até chamaram a atenção dos grandes de Lisboa. Ivo foi contratado pelo Sporting e Cláudio pelo Benfica. Nenhum deles teve sucesso: de dispensa em dispensa, o primeiro está agora em parte incerta e o segundo exerce a sua profissão no Odivelas. Lembrei-me de tudo isto ao ver pela enésima vez o brasileiro David, avançado de rosto e voz humilde que deu uma enorme alegria ao Atlético e sonha agora com o contrato da sua vida.

Deve haver quem agradeça aos grevistas do Metropolitano

Mais uma manhã, mais uma greve do Metropolitano de Lisboa. Recorri aos prestimosos serviços da Carris e tive a sorte de encontrar uns centímetros cúbicos num sobrelotado autocarro, no qual permaneci uma dezena de minutos em permanente contacto com os cotovelos de uma dúzia de companheiros e (sobretudo) companheiras de infortúnio. A presente estação do ano implica uma espessa camada de roupas que tornou a situação menos perniciosa para todos os envolvidos mas desconfio que, a manter-se a fúria grevista dos trabalhadores do Metropolitano nos meses mais abafados, muitos corações solitários e habituais envergadores de gabardinas em dias de céu azul suspenderão a respiração à espera de cada nova acção de luta...

Monday, January 08, 2007

Resolução de ano novo (economicista quanto baste)

Nestes últimos dias reparei na facilidade com que se consegue andar pelas lojas sem ficar coberto de hematomas e na abrupta queda de preços. Tendo em conta isso e o facto de ainda não ter conseguido identificar com precisão a ilha do arquipélago protestante mais adequada ao pecador que sou pergunto-me se não será mais avisado tornar-me ortodoxo e agendar o próximo "potlach" - os menos versados em Antropologia Cultural chamam-lhe troca de prendas de Natal - para a noite de 6 para 7 de Janeiro de 2008.

E se numa tarde de Inverno uns viajantes

Isto é um assunto melindroso e desde já peço a atenção de todos. Uma das janelas da minha casa permite-me observar a principal rota de aproximação dos aviões que se dirigem ao aeroporto da Portela. Explicado este ponto, acrescento uma perturbadora informação: na tarde de sábado, estando a almoçar na companhia da minha "better half", reparei num aparelho voador que não apresentava sinais exteriores de pertencer a uma qualquer transportadora aérea. Este facto leva-me a desconfiar que, excluindo a hipótese de os proprietários da aeronave não terem tinta em armazém, mais não seria do que mais um dos voos da CIA com gente agrilhoada. Claro que antes de alertar a eurodeputada Ana Gomes para ela fazer uma indignada conferência de imprensa na minha varanda devo admitir que à hora do avistamento havia uma cerrada cortina de nevoeiro em Lisboa.

Sunday, January 07, 2007

O tempo anda húmido, as piadas continuam secas

No curso de formação profissional para o qual o ministro Vieira da Silva amavelmente me convocou ando por estes dias a aprender noções de Contabilidade Geral. Ainda não adoptei o lápis atrás da orelha mas já adaptei o meu sentido de humor às novas competências que me esforço por adquirir. Eis um exemplo: como se inscreve no balanço anual um travesti que deambula toda a noite pelas imediações do Conde Redondo? Não tem nada que saber: trata-se de passivo circulante*.

*embora o Plano Oficial de Contabilidade discorde e o próprio travesti possa acreditar na polivalência e flexibilidade...

Alcântara tem mais encanto na hora da Taça de Portugal


Na noite de sábado fui jantar ao magnífico restaurante de comida russa "Tapadinha", cuja pertença ao bairro de Alcântara pode ser comprovada pelo facto de distar menos de 20 metros de um dos pilares daquela ponte parecida com a de São Francisco que foi construída da noite para o dia. Menos de 24 horas depois fiquei a saber que o histórico Atlético, outro dos orgulhos desse bairro lisboeta, foi ao Estádio do Dragão obter um resultado que "cheira bem, cheira a Lisboa". Ignoro se existe qualquer ligação entre os dois factos mas se calhar marcarei na minha agenda um Frango à Kiev para a véspera do próximo FC Porto-Sporting.

Wednesday, January 03, 2007

Quando os manuais de História forem escritos por certas e determinadas pessoas...


...saberemos que nesta fotografia estão alguns dos 6825 norte-americanos sentenciados a morrer na ilha de Iwo Jima por um insensato e belicista moribundo chamado Franklin Delano Roosevelt.

O melhor amigo-quando-lhe-apetece do homem


A horas pornográficas da manhã de hoje, estando eu de regresso ao curso de formação com o qual o ministro Vieira da Silva fez o obséquio de me presentear - e que, em abono da verdade, é interessante ao ponto de o encarar como um enriquecimento e não como o castigo a indolentes beneficiários de subsídio de desemprego que supostamente pretende ser -, dei conta de que pertenço ao único tipo de minoria que nunca foi defendida com unhas e dentes pelo Bloco de Esquerda. O formador pediu à vintena de almas presentes na sala de aula que dividissem uma folha em quatro partes iguais e desenhassem um automóvel, um animal, um sucesso e uma projecção daqui a três anos. Poupo-vos a grandes pormenores quanto a três das minhas mais recentes criações artísticas, mas revelo que desenhei no canto superior direito o tipo de gato vampiresco que costumo fazer a pedido da minha loura sobrinha Carolina. Sucede que, dentro do tal universo de 20 pessoas, só houve outra a escolher o mais doméstico dos felinos, apontando o mesmo motivo para a sua decisão: a extrema independência no contacto com o dono. Pelo contrário, os mui nobres e leais cães mostraram gozar de uma esmagadora popularidade nem de perto nem de longe desafiada por opções como os golfinhos, os leões (a simpatia clubística terá sido determinante num dos casos, sendo o outro explicado por se tratar de um animal que “não faz puto" e tem "gajas a trabalhar para ele") e os peixes de aquário. Fosse eu mais sádico e teria formulado uma teoria científica eventualmente comprovável através de dispendiosas experiências científicas para as quais exigiria milionário financiamento ao emérito ministro Mariano Gago: as pessoas que gostam de cães têm maior tendência a perder o emprego do que os indefectíveis dos gatos.

Ano novo, vida nova

Dentro de alguns minutos vou tentar cozinhar dois peitos de frango com natas e sopa de cebola. Começo a perceber o que Vasco da Gama sentiu antes de zarpar para a Índia.

Testemos a paciência do ministro Correia de Campos

Apetece-me ir ao centro de saúde da minha área de residência inquirir se um polegar esfolado devido a sobredose de Pro Evolution Soccer 6 dá direito a uns módicos 20 ou 30 por cento de incapacidade.

Tuesday, January 02, 2007

No início era o fogo


Tive a felicidade de passar o "réveillon", ao lado de minha amada e de um casal de amigos, na tranquilidade de um terraço de Lagos cuja orientação geográfica oferecia grande parte da costa algarvia como linha do horizonte. Apesar do frio, mitigado pela alegria de ali estarmos e por uma garrafa de Moët et Chandon arquivada há excessivo tempo no meu frigorífico, persistimos durante largos minutos na observação das explosões de fogo-de-artifício por cima daquilo que adivinhámos ser Portimão, Praia da Rocha, Carvoeiro e Armação de Pera. Tão belo era o espectáculo que demorámos a perceber que já 2007 levava quase meia-hora e ainda havia luzes de todas as cores a iluminar o céu estrelado. Parte de mim pensou nos largos milhares de euros que estavam a ser esbanjados pelas autarquias em tempos de crise. Mas a outra parte postulou que tudo aquilo foi um excelente investimento: é fulcral que todos acreditem na possibilidade de o ano novo trazer soluções para os problemas e dificuldades de 2006. Assim o espero.
d